O urutau é um pássaro peculiar. Seus olhos são completamente pretos ou amarelos e esbugalhados, mas ele também enxerga com os olhos fechados por uma fina membrana. A boca lembra um fantoche, com um pequeno bico parecido com o de uma coruja. Ele tem uma das camuflagens mais impressionantes do reino animal: predadores e humanos leigos demoram a vê-lo disfarçado de tronco de árvore.
Quando cai a noite, o canto do urutau lembra uma flauta e um choro humano. O som pode parecer assustador na escuridão. Há muitas lendas sobre o urutau. Desta vez, porém, ele está em uma história bem realista.
Desde 2018, a construção de um centro logístico a 4 km da vila de Paranapiacaba, em Santo André (SP), é questionada na Justiça e no município. O projeto inicial calculava a retirada de uma área equivalente a 92 campos de futebol de vegetação de Mata Atlântica.
Para moradores e ambientalistas, a obra levaria poluição, barulho e acidentes para um local com denso nevoeiro da Serra do Mar, próximo a áreas de conservação, rios e com patrimônio histórico e turístico. Na versão da empresa, criaria 600 empregos e usaria o trem para diminuir o uso da rodovia.
O urutau foi eleito símbolo do grupo contrário à instalação do "Porto seco". "A destruição do espaço gera um desequilíbrio: uma espécie de uma região próxima pode disputar alimentos e espaço com o urutau e causar efeito negativo em todas as espécies", diz o biólogo Miguel Malta Magro, do SOS Paranapiacaba.