Certa vez, uma patroa disse que Babu Santana não tinha perfil para largar o emprego na zona sul carioca para atuar. Mas, em 2015, ele foi o melhor ator no Grande Prêmio de Cinema Brasileiro por recriar o mítico e complexo Tim Maia. Três anos depois, foi homenageado na Mostra de Cinema de Tiradentes, um dos mais importantes circuitos de cinema no país. Driblou roteiros fáceis e esteve em filmes como "Estômago", (2007), no qual foi premiado como melhor ator coadjuvante do ano, e "Mundo Cão" (2016). Em "Café com Canela" (2017), interpretou a melancolia e o humor de Ivan, um médico ainda apaixonado por um homem que o abandonou. O monólogo interpretado por Babu no longa metragem viralizou nas redes sociais neste ano e é um dos pontos altos no enredo, segundo os críticos.
Este ano, Babu não interpretou ninguém: foi ele mesmo durante 24 horas no Big Brother Brasil. Tentaram eliminá-lo oito vezes, um recorde no reality global, mas ele resistiu e ficou próximo da final. A popularidade, já grande, aumentou em escala com a exposição, e agora o ator se prepara para interpretar um policial na retomada de "Salve-se quem puder", novela das sete.
Imagina, então, se não tivesse perfil para a coisa? "Para mim, o que [minha ex-patroa] me falou foi como combustível. Como se tivessem tacado querosene na fogueira", diz.
A carreira de Babu, hoje com 40 anos, tem origem na "Nós do Morro", companhia de teatro instalada pelo diretor Guti Fraga na favela do Vidigal em 1986. O ator nascido e crescido na comunidade tem, em um dos braços, uma tatuagem em homenagem ao grupo que emancipou centenas de jovens por meio da arte. Além do teatro, muitos tornaram-se rostos conhecidos na televisão, teatro e cinema.
No BBB, Babu era um dos únicos homens a questionar táticas e falas machistas dos participantes masculinos. Aqueles eram debates que já mantinha antes de ser escalado para o reality, conta. A falta de roteiro permitiu que o ator pudesse ser exatamente assim: ele mesmo.
Como consequência, sua reputação resistiu até mesmo às redes sociais, quando ainda não sabia o que significavam termos como "cancelamento" ou "Tik Tok". Mas não espere que ele aponte os mesmos dedos da internet para dizer quem são os grandes culpados pelos problemas da humanidade.
Em conversa com Ecoa, deixou claro que é por meio da paciência, da escuta e do entendimento sobre problemas sociais como o racismo que Babu propõe pontes para conversar sobre masculinidade, paternidade, coletividade e pretitude. "Contem comigo para o amor", diz.