O deputado federal Darci de Matos, então deputado estadual em Santa Catarina, é o criador da emenda que tirou os cavalos da lista de seres sencientes. "Os cavalos têm sentimentos tanto quanto cães, gatos ou até mais", diz. "Mas houve uma pressão muito grande", explica.
Segundo ele, a pressão veio de associações tradicionalistas do estilo de vida gaúcho. Na prática, são grupos do sul que reproduzem as tradições dos primeiros habitantes, como rodeios e o laço (onde um cavalo corre atrás de um boi, laçado pelo cavaleiro).
À época, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a vaquejada não seria mais permitida no Ceará. A decisão dividiu os ministros da corte.
Em 2015, os parlamentares catarinenses também tinham proibido a chamada "puxada", atividade em que um equino puxa até 1 tonelada de pedras por um terreno com lama e sem a ajuda de uma carroça.
Segundo Darci, as proibições causaram receio de que as ONGs ou juízes promovessem a mesma proibição contra os rodeios em Santa Catarina. "Fiz a emenda achando que iria ajudar os tradicionalistas. Todos, mesmo sabendo que [os cavalos] são sencientes, entenderam que a lei seria utilizada para coibir os tradicionalistas", explica.
Ele afirma que considera o cavalo "consciente e sempre será". "Falei que eu tiraria [a emenda] se quisessem, mesmo acreditando que cavalo é senciente". Darci, que disputou as eleições para prefeito de Joinville neste ano, faz campanha em prol dos animais nas redes sociais.
O deputado não especificou qual grupo teria pressionado a derrubada da emenda. A reportagem de Ecoa entrou em contato com o Grupo Tradicionalista Catarinense (GTC) para entender se houve envolvimento com o caso.
O presidente do GTC, Ciro Harger, nega que tenha feito "pressão", mas diz que se reuniu em comissões e pediu a revisão do texto. Segundo ele, a decisão da época não explica como seriam realizadas as atividades tradicionais a cavalo no estado. "Para entender o tamanho do erro, eu poderia usar uma égua no lugar de um cavalo para não atender à lei, se quisesse. O texto só dizia 'cavalo' e excluía equinos como a égua ou o burro. Não foi bem formulado", explica.
Harger afirma que tradicionalistas usam regras próprias para cuidar dos cavalos.
Em um consenso improvável entre defensores dos direitos animais e criadores, Harger também defende que todos os animais são seres sencientes e que é injusta a inclusão apenas de cães e gatos. "Não é certo excluir um ou outro animal. O certo é colocar todos que são sencientes na lei".
Botar o cavalo de volta na lista nos próximos meses é o que esperam advogados como Isabelle, do começo da reportagem.
Há a expectativa de que o Ministério Público Federal acione a Justiça de Santa Catarina para garantir que o estado tenha um plano definido para proteger e reconhecer que cavalos e vertebrados têm, finalmente, direitos. "Eu não veria problema nenhum", afirma Harger.