A floresta é a farmácia mais próxima de indígenas, ribeirinhos e seringueiros. Eles conhecem a planta certa, a parte exata dela que deve ser usada, o método de extração e a dose para tratar febres, dores, inflamações. Não é feitiço. É um saber acumulado por séculos de observação e prática (de acertos e erros). Isso também é chamado de conhecimento empírico, e está entre os métodos científicos.
Tanto é assim que os pesquisadores correm para os biomas inexplorados e para as medicinas tradicionais quando precisam achar remédios, seja pelo surgimento de novas doenças, como agora, seja porque os medicamentos conhecidos perderam eficácia para as enfermidades já conhecidas.
Um caso exemplar disso tem frequentado a boca dos presidentes de Estados Unidos e Brasil e de milhares de contaminados pelo coronavírus. Trata-se da quina (Cinchona officinalis). Os nativos sul-americanos apresentaram as propriedades da casca dessa árvore aos colonizadores, que a levaram para o Velho Mundo para combater uma doença que afligia as civilizações de lá: a malária. Também conhecida como paludismo ou "febre dos pântanos", a enfermidade virou surto quando a agricultura aumentou as áreas encharcadas, ideais para a proliferação do mosquito que carrega o protozoário.
Tanto a medicina oficial quanto as versões tradicionais, como a chinesa ou a indígena, têm como base histórica o uso de plantas para aliviar sintomas e fortalecer o sistema imunológico. Com a industrialização, essas substâncias foram se aprimorando em eficiência e segurança. Mas a natureza e o conhecimento dela seguem servindo de inspiração até hoje, com cada novo medicamento sendo registrado na Farmacopeia Brasileira, compêndio de fármacos, insumos, drogas vegetais e produtos para a saúde, sob administração da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).