"Aprendi que nada levanta a moral como uma boa refeição", diz a inglesa Sally Silverstone, após meses vivendo em isolamento com outros sete colegas, num ambiente cada vez mais degradante. Baratas invadiam os cômodos, faltavam alimentos, e o grupo sofria com uma queda misteriosa de oxigênio.
Mas os bolos de Silverstone eram um sucesso, ainda que extremamente difíceis de fazer sem manteiga e açúcar. "Fizemos vinho de banana e acredito que poderia um dia ficar bom. No entanto, assim que tem álcool, não dura nada", ela continua, sobre seus colegas sedentos.
Calma! Silverstone não vem do futuro apocalíptico com uma lição de sobrevivência para nossas quarentenas de Covid-19. Ela vem de 1991, quando um grupo de visionários decidiu construir uma gigantesca redoma de vidro no meio do deserto do Arizona (EUA) e jogar lá dentro oito aventureiros para sobreviver por dois anos seguidos.
Foi a mais longa experiência científica de confinamento humano, no maior laboratório ambiental do mundo. O projeto traria diversas descobertas sobre sistemas fechados e também inspiraria a criação do programa de TV "Big Brother". Mas seu principal objetivo era muito mais nobre: criar biosferas autossustentáveis para levar ao espaço em nossas viagens interplanetárias.
O resultado foi um fracasso épico. Ou não, dependendo de com quem você conversa. Os criadores do experimento, um bando de ecologistas engenhosos que se chamavam de "sinergistas", acabaram expulsos do projeto em 1994.
O espaço existe até hoje, uma estrutura colossal de vidro isolada entre as montanhas de Santa Catalina, e recebe diversas pesquisas, inclusive do Brasil. Mas não há ninguém morando lá dentro.
Um novo documentário relembra as origens dessa odisséia humana de US$ 200 milhões no começo dos anos 1980, duas décadas antes de Elon Musk fundar a SpaceX e voltar a sonhar com a colonização de Marte.
"Faz parte do destino humano, somos uma espécie de exploradores", disse a Ecoa Mark Nelson, um dos oito pesquisadores isolados em 1991.