Quando mandacaru floresce na seca é sinal de que venceu a resistência na paisagem nordestina. A flor símbolo da região, que nasce do cacto no sertão brasileiro, é a primeira imagem que vem à cabeça da psiquiatra e neurocientista Natália Mota quando alguém pergunta se ela pensa em deixar o país em meio ao retrocesso social e ao corte de investimento federal nas áreas de ciência e tecnologia.
Aos 35, com graduação, mestrado e doutorado pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), Natália se orgulha de nunca ter saído do Nordeste para estudar. Natural de Fortaleza, de onde herdou o bom humor, e radicada em Natal há 20 anos, foi a única cientista sul-americana indicada ao prêmio Nature Research Award de 2019, voltado para mulheres cientistas que inspiram outras mulheres.
O reconhecimento veio por causa do projeto que desenvolve desde 2016, em que, a partir de um programa de computador, consegue reduzir o tempo do diagnóstico de esquizofrenia, que geralmente leva dois anos — o trabalho contribui para antecipar tratamentos e controlar o distúrbio.
Nesta terça-feira (11), dia no qual a ONU (Organização das Nações Unidas) celebra o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, a neurocientista conta como trava todos os dias uma batalha em defesa da presença de mais mulheres na ciência e relembra sua trajetória, que inclui centenas de horas de pesquisa em laboratório e residência médica intercaladas com a vida pessoal de quem teve duas gestações durante esse processo.