Durante a infância, Vivi Duarte, 41, morou em um cortiço na Freguesia do Ó, bairro da zona norte de São Paulo. O mesmo quintal era dividido por oito famílias. Mãe e avó protagonizam as lembranças mais fortes dessa época. Para sustentar a casa onde, além de Vivi, moravam mais duas crianças, elas vendiam roupas, doces e o que mais precisassem. "Minha vó sempre falava: 'vendemos o almoço para pagar a janta'. Quando minha mãe desanimava e dava uma caída, ela sempre inventava algo: 'vamos lá, agora podemos vender coxinha'". Já o pai, conta Vivi, nunca foi muito presente.
Nessa fase da vida, Vivi também descobriu como os sonhos podem ser sabotados. Tudo gira sobre onde se nasce e cresce e qual a cor da pele. Vivi queria ser jornalista; a irmã, gerente de banco. Quando as duas brincavam sobre o futuro, ensaiando para suas profissões, vira e mexe ouviam de algum vizinho:
Sua mãe e sua vó mal conseguem pagar o aluguel e vocês querendo fazer faculdade. Isso não é para vocês. Parem de ficar sonhando tão alto porque o tombo é grande
Mas o DNA empreendedor, o exemplo das mulheres que a cercavam e, ao mesmo tempo, o entendimento de que o caminho é bem mais longo para quem nasce sem privilégios ajudaram Vivi a "hackear o sistema", expressão que a jornalista gosta de usar para reforçar sua trajetória. A irmã de Vivi, a propósito, virou executiva da área bancária.