Na infância, Ana tinha fascínio por bichinhos que se enterravam no quintal de um prédio no Méier, bairro no Rio de Janeiro. Tatu-bolas, formigas, besouros tinham suas vidas subterrâneas analisadas com curiosidade e empenho. Um tio lhe deu de presente uma edição do livro "O assombroso mundo da natureza" e, sem prever, indicou o futuro de Ana.
Havia na obra a imagem de uma planta carnívora arroxeada com uma pequena aranha na "boca". A futura bióloga tinha 7 anos. "Eu tenho a página impressa na mente", diz. "Fiquei olhando aqueles olhinhos, que sempre gostei de observar bem de perto."
Anos depois, quando estudava zoologia, ouviu um conselho semelhante de um professor. "Escolha um bicho para estudar que você não cansaria de olhar pelo resto da vida", disse. Ela já sabia a resposta: aracnídeos.
A primeira grande pesquisa no Museu Nacional foi em busca de schizomidas, aracnídeos minúsculos que lembram formigas, encontrados pelo pesquisador Adriano Kury no bairro da Urca, no Rio. Havia suspeita de que as espécies não eram do Brasil.
Milimétricos, os schizomidas lembram grãos de terra, mas são "muito ninjas", rápidos e inteligentes. O processo para coletá-los é minucioso. "É um trabalho para nerds", define Ana.
A investigação gerou o primeiro registro do aracnídeo da Costa Rica na América do Sul. O professor dividiu os créditos da pesquisa com Ana, que foi bem reconhecida no meio acadêmico nos anos 2000, e partiu para o mestrado.