Com mestrado e doutorado, Anna foi aprovada em três concursos públicos de docência e convocada para das aulas na Universidade Federal de Goiás, em 2006. É nesse momento que começa seu trabalho de descolonização do currículo de Ciências.
"Fundei junto com meu grupo de pesquisa o Coletivo Negro (a) CIATA do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão (LPEQI ) - do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás, com o objetivo de trabalhar sob a perspectiva de uma episteme não-branca ou europeia nos currículos de Química".
Anna explica que isso não significa trocar um centrismo por outro, mas incluir elementos de culturas oprimidas. "Somos a maioria, mas a minoria em direitos. É muito difícil, em sala de aula, um professor fazer referência a uma cientista negra ou a um cientista negro. E isso acontece porque a cultura hegemônica visa o sujeito universal, que é o homem branco. Nosso trabalho é tirar da invisibilidade o passado em produção de Ciência e Tecnologia dos nossos ancestrais africanos e da diáspora, tornando a escola um lugar mais atrativo para todas crianças e adolescentes negros", diz.
No Colégio Estadual Solon Amaral, que fica na periferia da cidade de Goiânia, o grupo formado pela cientista trabalha com mais de 1500 alunos do ensino médio durante o turno escolar. Dentro do contexto da diáspora, Anna usa, por exemplo, o dendê, em uma aula de química inorgânica que estuda elementos e substâncias da natureza, investigando suas propriedades e processos de reações.
"O dendê é um fruto sagrado na religião de matriz africana, vem de uma árvore em que quase tudo dela se aproveita. A folha é utilizada para demarcar o espaço sagrado, a semente é utilizada para consultar o oráculo. Em sala de aula, não só contextualizamos a história - porque a palmeira do dendê não é natural daqui, ela veio com a diáspora -,como também usamos a casca do dendê, que tem um material altamente absorvente, em testes com resíduos metálicos", explica.
Ao fazer esse recorte, o objetivo é estimular o interesse de meninos e meninas por uma ciência mais representativa e próxima, que usa elementos do dia a dia para explicar compostos e processos químicos. O mesmo aprendizado é levado para o Grupo de Mulheres Negras Dandara no Cerrado - que desenvolve o fortalecimento e empoderamento de mulheres negras da periferia. Na ONG, o conhecimento em ciência e química acontece por meio de oficinas que contextualizam os processos de transformação ensinando, por exemplo, a fazer papel de folha de bananeira.
"O grande desafio como cientista é dizer para uma pessoa de fora da área que ciência é bacana, que ciência está na vida dela e que ela também pode se interessar. Porque tem outras mulheres iguais a ela que estudam e trabalham com isso".