Movimentos de moradia como no que Carmen entrou começaram a ocupar prédios na cidade de São Paulo com mais frequência no final da década de 1990. Ela participou pela primeira vez de uma ocupação em 1997, mas não chegou a morar lá. Só conseguiu uma casa quando em 2 de novembro daquele ano entrou em um prédio da Rua Álvaro de Carvalho.
Agora conhecido como Ocupação 9 de Julho, o espaço foi o berço para o nascimento do Movimento Sem-Teto do Centro, criado por Carmen e outras mulheres, em 2000, quando decidiram tomar outros caminhos e sair do Fórum de Cortiços. Foi também nesse ano que finalmente Carmen conseguiu trazer os filhos da Bahia para morar com ela na capital paulista. Moraram lá por seis anos.
Com 14 andares, o prédio é enorme. Fácil de se perder lá dentro. Tem uma grande horta na entrada ao lado de um abacateiro carregado. "Não fica embaixo dele, não, vai acabar caindo abacate na sua cabeça", avisa. No primeiro andar, há escritórios, cozinha, brinquedoteca e toda a parte de administração da ocupação. No subsolo, uma galeria de arte que recebia centenas de pessoas nos fins de semana pré-pandemia. Os andares de cima são destinados a moradia. Construído em 1943, o prédio foi sede do INSS até 1976 e depois foi esvaziado. Foram 21 anos sem ninguém dentro. Por esse motivo foi escolhido para ser ocupado.
Carmen explica melhor como funciona a escolha de lugares a serem ocupados por movimentos de moradia: "Primeiro a gente identifica o prédio pelo tempo que ele está abandonado e a dívida de IPTU, ou seja, quando os donos deixam de pagar os impostos para a cidade. Não entramos em nenhum prédio que esteja bonitinho com o dono pagando imposto, não, só nos que estão em dívida."
Ao todo, são 290 mil imóveis vazios na capital paulista, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE. Desde 2014 até 2019, a prefeitura de São Paulo notificou 1.425 imóveis ociosos que não cumprem a função social, ou seja, são construções que não estão sendo usadas em benefício da sociedade.
A situação que Carmen e os membros do MSTC encontram nos prédios é precária: muito lixo, entulhos, ratos. Por isso, a primeira ação que organizam é um mutirão de limpeza. Para garantir a manutenção do prédio, as famílias pagam uma taxa de R$ 200 mensais.