Perguntamos a Elaíze de quais reportagens mais se orgulha, ela cita várias. "Tem uma que fiz na comunidade quilombola do Tambor, que fica no rio Jaú, dento do Parque Nacional do Jaú, uma unidade de conservação federal criada há 40 anos. Acho que fui a primeira jornalista a ir no Tambor. Existe um apagamento da população negra no Amazonas. Até hoje essa comunidade não foi titulada pelo Incra".
O investimento em deslocamento pela região Amazônica, que é muito caro, como destaca o repórter Fábio Pontes, garante a Elaíze e sua agência estar em lugares onde a "imprensa tradicional", muito centrada no Sudeste, não chega.
"Produzindo matérias como essas, procurei dar relevância e visibilidade a realidades pouco conhecidas. Mas não apenas isso. Tem sido uma troca.
Elas me permitem conhecer e compreender seres humanos e não humanos, comunidades e territórios que possuem vivências próprias, diferentes visões humanistas e lógicas e códigos. É preciso reconhecer e compreender as experiências e as práticas destas identidades coletivas. Mesmo tendo nascido, morado a vida toda na Amazônia, eu descubro uma realidade nova. O que prova que toda sociedade, toda região é heterogênea.", diz Elaíze.
Mas nem sempre foi assim. Ela começou na "imprensa local", como diz, escrevendo sobre cultura e cidades, falando sobre desabamentos de terra, enchentes e percalços pela capital Manaus. Em paralelo, tentava emplacar histórias relacionadas a povos indígenas e questões ambientais. Dois assuntos sempre considerados secundários em jornais da época.
"Era muito menosprezado e até hoje é. Sempre vistos como assuntos secundários. Mas eu insistia nessas pautas, o que não era fácil porque ouvi muito que eram 'matérias de índio', essas coisas", conta. Para ela, o problema está nessa forma muito distanciada e estereotipada de olhar para as histórias da população indígena, o que em sua opinião ajudou a reforçar o estereótipo do indígena como folclore, remetendo a algo ancestral. "Porque se aparecer um indígena de celular, não é mais indígena. Como se fosse algo incomum. E, não, ele não deixa de ser indígena porque está usando um celular. Na verdade, essa é uma outra estratégia de sobrevivência e de combate."
Por isso, junto à jornalista Kátia Brasil, fundou a agência de jornalismo Amazônia Real. A ideia de criar um novo veículo de imprensa surgiu por necessidade — as duas jornalistas tinham ficado desempregadas —, mas também da vontade de apresentar uma versão mais real do que acontecia na região Norte do país.