"A agricultura, enquanto era uma atividade de produção de alimentos, era feminina. Quando ela passa a ser uma atividade que gera dinheiro, aí passa para a mão dos homens. Porque, na verdade, tudo o que se relaciona com o dinheiro é visto como masculino. O trabalho doméstico, não. Porque não é remunerado.
Como tem essa coisa de que o homem é visto como agricultor, então quando se comercializa a nota fiscal geralmente está em nome do homem, não importa quem produziu. É ele quem se relaciona com o sindicato, com a associação, com a cooperativa, e faz isso com muito mais facilidade, porque a mulher geralmente está presa no trabalho doméstico, ao cuidado dos filhos, tem que fazer comida todo dia. O trabalho delas na agricultura se torna invisível porque é o homem quem vai vender e não se pergunta quem produziu aquilo.
Aí a gente começou a perceber essa movimentação econômica nos quintais. Aquele espaço ao redor da casa é um espaço de domínio das mulheres, onde elas produzem muito para a alimentação da família. Começamos a sistematizar essa produção para que a gente pudesse dar visibilidade e valorizar o trabalho e a produção delas."