Aos 33 anos, Ítala Herta até parece que se multiplicou. De ativista negra se transfigurou em produtora, empreendedora social, cofundadora da Vale do Dendê (primeira aceleradora do Nordeste de negócios com foco em diversidade), cocriadora do portal e festival Ocupação Afro.Futurista, cabeça na iniciativa Diver.SSA (iniciativa para fomentar o empreendedorismo feminino de impacto social no Norte-Nordeste). E trabalhou com economia criativa, sustentabilidade e responsabilidade social em instituições públicas e privadas. Isso entre dezenas colaborações, consultorias, mentorias, parcerias, palestras, cursos.
Mas a primeira vez que seu nome saiu na imprensa foi nas páginas policiais. Em 2008, aos 19 anos, ela voltava do centro à noite com dois amigos para o bairro em que morava, Boca do Rio, quando o taxista que os levava "confundiu" os passageiros com assaltantes, acionando uma viatura por perto. O que se seguiu foi uma abordagem truculenta que só não acabou em morte porque o carro do tio e a tia de Ítala, que também voltavam do centro, passava por lá na hora da ação. Como tantos outros processos de violência policial, o caso foi encerrado sem punição aos agressores, mesmo sendo todos denunciados por racismo.
Hoje, ela frequenta as seções de economia e negócios dos jornais. O cotidiano pouco inclusivo, no entanto, também passeia pelos corredores do empreendedorismo. Encontrar e distribuir força na adversidade fez Ítala olhar com atenção para as empreendedoras, em especial as negras, afinal, 82% da população de Salvador é formada por pretos e pardos. "Muitas delas empreendem por necessidade e enfrentam dificuldade nos negócios por questões de dupla jornada, acúmulo de horas em tarefas domésticas, falta de crédito. Precisamos trocar essa narrativa do risco por uma narrativa da confiança. No meu trabalho, procuro transformar a vulnerabilidade em liderança", aponta.