Nessa época, ele se equilibrava entre os dias como soldado na Aeronáutica e as noites com o crack. "Em 2007, eu entrei para a Aeronáutica, mas hoje vejo que não estava preparado para aquela oportunidade. Eu não soube aproveitá-la", analisa. Aos poucos, Jefferson deixou transparecer para os colegas que era um dependente químico. Acabou sendo expulso do serviço militar. "Quando eu fui descartado, voltei a ser apenas mais um favelado, um viciado em drogas e ex-militar".
Foi nessa época que Jefferson encarou pela última vez as prisões fluminenses. Um ano de pena. Entrou no mês do seu aniversário, outubro, e saiu imaginando que era preciso aproveitar a data importante para nascer de novo para a sua favela, para a sua família e, especialmente, para ele mesmo.
"Lá, eu fiquei pensando como estava desperdiçando os meus talentos, meu tempo, meus dias em algo que não estava contribuindo em nada. Então, passei a imaginar o que eu precisava fazer para que essa minha história nunca mais fosse contada. Para que outras crianças não precisassem passar pelo que passei", explica.
O mundo do lado de fora o acolheu com um trabalho no arquivo do Jornal do Brasil, graças a um amigo que fez a ponte. Foi a partir daí que Jefferson começou a entender que uma de suas grandes habilidades era conectar pontos, pessoas e oportunidades.
"Procurei nos arquivos notícias sobre o Turano, para entender o que havia acontecido por aqui no começo dos anos 1990, que foi um período muito violento. Não encontrei nada, mas percebi que os jornais só falavam da violência e do que faltava na favela. Apenas essas histórias eram consumidas pelos jornais e pelos leitores. Não havia nada sobre o monte de coisas boas que aconteciam, elas eram anuladas. Cheguei a essa conclusão, mas ainda não sabia bem o que fazer com ela".
No dia 10 de agosto de 2010, policiais do Bope (Batalhão de Operações Especiais) subiram o Complexo do Turano para colocar em funcionamento a 11ª Unidade de Polícia Pacificadora - UPP. A política, na época, consistia em duas frentes: ocupação das forças de segurança e a chegada de cursos profissionalizantes e outros serviços para a comunidade.
Graças a essa segunda frente de trabalho, a partir de 2011 ele passou a atuar como mobilizador comunitário, conectando população e oportunidades que chegavam todos os dias. Foi a brecha que a imaginação de Jefferson queria para conectar o segundo ponto que faria nascer, três anos depois, o Favela Radical.
"Minha maior descoberta foi ver que as crianças eram atendidas pelos projetos que existem aqui, mas o pai e a mãe, inclusive muitos deles sem trabalho, que ficavam o dia inteiro dentro de casa, não se relacionavam com as oportunidades que chegavam. Eram duas coisas isoladas, e isso chamou muito a minha atenção. A gente não saía do morro para captar oportunidades fora."
À essa altura, Jefferson começava a desenhar na sua cabeça algo que misturasse tudo, mesmo sem saber bem o que gostaria de fazer, e como. "Eu fui juntando as informações: até ali eu sabia que os jornais só contavam sobre a criminalidade do bairro. Entendi como a gente era vulnerável, pois eu estava todos os dias conversando diretamente com as pessoas. Vi o quanto a comunidade precisava ser estimulada a acessar as oportunidades. Não era só apresentar uma e dizer para ir lá buscar".