"Você é muito bonita, mas tem um problema: você é negra. Olha para o meu catálogo de modelos. De 300 rostos, três são de mulheres negras. É por isso que eu quero que você entenda: ser negra, no mundo da moda, é um problema."
Foi nesse contexto que ouvi a frase que mudaria a minha vida.
Na adolescência, umas pessoas falavam que eu deveria fazer alguma coisa com a minha beleza e-xó-ti-ca. Nunca era beleza e ponto. Como sempre fui alta, diziam para eu ir jogar basquete ou vôlei, mas nunca tive aptidão para esses esportes. Então, fui tentar ser modelo.
Escrevi para uma marca que desfilaria no Fashion Rio pedindo convites, e para lá eu fui com a minha mãe. Era junho de 2007. Naquele dia vi várias celebridades circulando, mas não estava deslumbrada. Olhava para aquilo tudo com curiosidade. Minha mãe sempre me ensinou a ter os pés no chão.
Foi ali, nos corredores da Marina da Glória, que uma jornalista francesa me viu e convidou para desfilar em um projeto na Europa. Na França, ela me conectou com o mercado. Fiz algumas fotos de apresentação e fui para a agência. A primeira a chegar, e a esperar. Depois de mim, entraram mais umas 100 garotas. Uma após a outra, todas passaram na minha frente.
O homem responsável pelo casting - ou seja, quais modelos seriam selecionadas — me pediu para esperar.
E então disse a frase ali de cima: "Tem um problema."