Por dois anos, a empresária Lívia Aragão, 42, viveu presa na própria casa, em Salvador (BA). Com medo de seu ex-marido e agressor, ela vedou algumas janelas com tijolos, instalou um grande portão de ferro e, paralelo a ele, grades. Tudo trancado com múltiplas correntes e cadeados para evitar que a longa lista de violências que sofreu se repita. Só para citar algumas: o homem a ameaçou de morte diversas vezes e chegou a apontar armas para os filhos do casal — uma menina de 13 anos e um menino de 12.
"Eu tinha medo de colocar o pé para fora. Nas poucas vezes em que saí durante aquele período, quase fui atropelada e recebi ameaças de linchamento", diz a baiana que hoje já faz saídas mais longas, mas ainda vive sob medida protetiva (instrumento legal que impede homens agressores de chegarem perto das vítimas enquanto respondem a processos por violência contra mulher). "Se eu estou viva, é graças a Denice e aos policiais que trabalham com ela", diz.
Lívia é uma das 5.700 atendidas pela Ronda Maria da Penha, equipe especial criada há quatro anos pela Major Denice Santiago. Trata-se de um serviço da Polícia Militar da Bahia dedicado a garantir a segurança de mulheres que vivem sob ameaça permanente de seus agressores. Sob sua batuta também foi criada a Ronda para Homens. São Encontros com agressores ministrados por policiais masculinos. "São homens conversando com homens pelo fim da violência", diz.
Seu efetivo conta com 108 policiais que atuam em todo o estado baiano. Já a major está baseada na capital, Salvador. Ela fica no Distrito Integrado de Segurança Pública (DISEP) onde há um muro grafitado com frases como: "Você não é culpada: lugar de mulher é onde ela quiser" ou "Cuide-se! Você é uma guerreira!"
Em seu gabinete, onde recebeu a reportagem de Ecoa, há lembranças dos prêmios que tem recebido como reconhecimento de seu trabalho: o selo de Práticas Inovadoras de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, entregue pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e o Diploma Bertha Luz, do Senado Federal, por exemplo. O sucesso do trabalho de Denice tem tido outros impactos. Mais estados brasileiros têm se inspirado na experiência baiana para criar seus próprios serviços. É o caso de Alagoas, onde os policiais foram treinados pela própria major.