A consciência política, racial e ambiental do jovem negro de Mauá foi sendo formada desde os 14 anos junto aos movimentos de juventude da última década: os protestos contra o aumento das passagens de ônibus em 2012 e o movimento secundarista três anos depois.
"Depois de um tempo, comecei a perceber que tem um espaço político que a gente pode ocupar e uma resposta que a política institucional precisa dar para a população. Se a gente não fizer nada, eles nunca vão dar. O nosso silêncio mantém uma estrutura de poder, uma estrutura branca, de ecocídio. Senti que eu precisava falar", diz.
Ele foi convidado a participar do Conselho Municipal de Juventude de Mauá, criado em 2011. Uma questão fortemente reivindicada pelo conselho foi a construção da Estação de Tratamento de Esgoto de Mauá, que melhoraria a qualidade de vida da população, reduziria o custo do serviço e contribuiria para preservar as águas do Tamanduateí. A ETE foi entregue em 2014.
Em seguida, a reorganização escolar anunciada pelo governo do estado de São Paulo em 2015 afetava Marcelo diretamente. Ele trabalhava e estudava à noite e, com a mudança, sua escola deixaria de oferecer o ciclo noturno, o que dificultaria a conclusão do ensino médio, um sonho de sua mãe. Marcelo era o primeiro da família a ter a oportunidade de terminar a escola.
O jovem participou das ocupações das escolas e, nesse processo, também passou a "se entender como pessoa preta". A experiência de vir pela primeira vez para a capital, conhecer outros ativistas negros e ter acesso a novas discussões fez alguns dos "porquês" que rondavam sua cabeça ganharem uma resposta. Ser seguido no mercado ou tomar um enquadro não era natural, era racismo.
"Eu inventava sobrenome italiano. Tinha vergonha do meu nariz, do meu corpo. Conhecendo mais sobre a história do meu povo, trocando com pessoas que se pareciam comigo e tinham orgulho de ser, isso foi me trazendo uma autoestima outra", disse.