Há 50 anos, Ivaneide Bandeira Cardozo, 62, luta em defesa da floresta e dos povos indígenas na Amazônia. Mãe e avó, de cinco filhos e um neto, conhecida também como Neidinha Suruí, por ter sido casada com o cacique Almir Suruí, líder da etnia paiter suruí, a indigenista nasceu no município Plácido de Castro, no interior do Acre, mas vive hoje em Porto Velho (RO). É formada em história, mestre em geografia e doutoranda em geografia pela Universidade Federal de Rondônia (UFRO).
Filha do seringueiro Aldenor Bandeira Macedo e da protetora da família Noêmia Cardozo Bandeira, Neidinha, ainda na infância, fez de berço a floresta amazônica. Nas recordações do início da vida no Acre, ela conta que o pai desbravou os seringais de Santa Rosa del Abuná, na Bolívia, e de Nazaré, atualmente chamado de Reserva Extrativista Chico Mendes. Na época, a atividade extrativista de Aldenor Bandeira era o sustento da família.
Tempo depois, quis o destino levá-los para Rondônia, onde passaram a viver dentro de um batelão, um tipo de barco de madeira. Ali, a vida passou a ser sustentada pelo comércio atendendo ribeirinhos no rio Jaci Paraná, afluente do Rio Madeira. Da vida "fluvial comerciante", Neidinha recorda que, certa noite, o barco onde moravam pegou fogo. No mesmo instante, junto da irmã e da mãe Noêmia, partiram numa canoa enquanto viam os galões de gasolina explodindo e clareando o céu.
O fogo se alastrava sobre as águas e, para se afastar do perigo, foi preciso sua mãe arrancar uma tábua de um caixote abandonado para improvisar o remo e fugir das chamas que perturbavam o descanso do rio turvo. "Escapamos todos vivos, só o piloto queimou a perna com queimaduras de segundo grau", conta Neidinha.
Encharcados pela água e pelas lembranças da noite que se fazia dia graças ao incêndio, partiram sem nada, "pois tudo que tinham estava no barco, e o que lhes restava era a roupa do corpo".