Quando voltava para casa, a professora Lília Melo, 41, viu uma cena chocante. Nas ruas do bairro Terra Firme, em Belém (PA), havia corpos de vítimas de uma chacina. Ao todo, 11 pessoas foram mortas na periferia da capital paraense naquela noite de 2014, alvos de grupos de extermínio. Entre elas, estavam alunos seus.
O bairro fica na chamada zona vermelha e é considerado um dos mais violentos da cidade, segundo índice do Observatório de Estudos em Defesa da Juventude Negra. "Sabe quando tu voltas, que tu te sentas e pensas: quem sou eu? O que estão fazendo? O que eu posso fazer? Eu sabia que era hora de fazer algo pelo meu povo, pelos jovens pretos, indígenas e ribeirinhos dali. Eu não podia me calar", conta.
Cansada de apenas assistir às marcas deixadas pela violência, ela criou o projeto "Juventude Negra Periférica - Do Extermínio ao Protagonismo" para promover a autoestima dos alunos, uma espécie de refúgio para a dura realidade que vivem. "Extermínio não é só por bala. Extermínio é afetivo e social também", disse à reportagem de Ecoa.
Realizado em parceria com coletivos periféricos, o programa estimula a produção de conteúdos audiovisuais pelos jovens. Além disso, promove atividades de dança inspiradas no movimento hip hop, no teatro e no cinema.
A iniciativa rendeu a Lília o título de melhor educadora de ensino médio do país, em 2018, no prêmio nacional "Professores do Brasil", do MEC (Ministério da Educação). A premiação, suspensa em 2019, reconhece o trabalho de professores de escolas públicas que contribuam de forma relevante para a qualidade da educação.