Rodrigo Hübner Mendes, 48, falava para uma plateia de jornalistas na primeira vez em que a reportagem de Ecoa teve contato com o professor e pesquisador. A palestra tratava dos desafios da cobertura jornalística sobre educação inclusiva, área à qual Rodrigo se dedica há mais de 25 anos.
A voz suave, mas com palavras firmes, orientava sobre formas de tratar o tema sem reforçar estigmas e destacava a importância de combater um dos vícios do jornalismo: a valorização da ideia de superação individual.
A história de vida de Rodrigo poderia ser um prato cheio para essa abordagem, pois é repleta de superações: desde a luta pela vida após levar um tiro em um assalto, passando pela aceitação da tetraplegia que o deixou na cadeira de rodas, até a criação de uma organização sem fins lucrativos que já formou mais de 9 mil professores para a educação inclusiva.
Rodrigo, no entanto, faz questão de reforçar o quanto isso é limitador. "Sabe aquele pensamento de que uma pessoa que faz parte de um segmento que enfrenta dificuldades, alguém que tem uma desvantagem, pode vencer as barreiras e ser uma pessoa vitoriosa a partir do seu esforço pessoal? Ele é, nada mais, nada menos, que uma abordagem limitadora dessa pessoa. A superação individual tem, no fundo, uma relação com a ideia do herói ou do coitado, do sofredor."
Nos dois encontros que a reportagem de Ecoa teve com Rodrigo para entrevistá-lo, ficou claro que essa história só poderia ser contada a partir da perspectiva da superação coletiva, em que não há heróis ou coitados, mas sim pessoas envolvidas em construir um bem comum.
"Eu gosto do conceito de uma superação coletiva, que vai muito além dessa superação individual. A sociedade costuma criar uma certa ilusão de que, quando a pessoa superou seu impedimento, o problema está resolvido. Quando, na verdade, é mais complexo que isso. Se o entorno não mudar, a gente não cria oportunidades, não elimina obstáculos, nas atitudes, na infraestrutura e na forma de a gente se comunicar."