"Eu não adotei uma filha. Fui adotado como pai.
Joselma costumava ir ao ferro-velho para levar comida ao tio José todos os dias. Com um olhar doce, ela não via a gente, que trabalhava como carroceiro, com os mesmos olhos do resto da sociedade. Não havia discriminação, mesmo com minha aparência maltrapilha e o cheiro de álcool.
Eu a ajudava com a tarefa da escola, e um laço de amizade foi sendo criado. Até que um dia ela olhou nos meus olhos e disse: 'Posso te chamar de pai? Se eu tivesse um pai, eu queria que fosse igual a você'. Isso acabou comigo.
Escondido de Margarida [a mãe da garotinha], eu comecei a frequentar as reuniões da escola - me arrumava todo, ficava cheiroso. Afinal, eu já me via como seu pai. Certo dia, a mãe me chamou na casa dela — preocupada, com razão — para saber por que eu estava me aproximando da filha de apenas 12 anos.
Joselma não fez apenas a ponte para eu conhecer minha esposa, mas também foi um anjo que me ensinou o valor da família. Ela mudou minha vida. Sabe, o mundo devia ser como ela, sem preconceitos."