Ao voltar da aventura latino-americana, Ávila começou a contribuir com os movimentos com o que podia: cartazes. Tentava produzir peças com design mais atrativo, para comunicar melhor a mensagem dos protestos. "Primeiro foram os panfletos. Depois fiz traduções, releases, atas. Não chegava lá dizendo que o movimento devia fazer isso ou aquilo, assim ou assado. Ia lá e perguntava: onde posso ser útil?", lembra.
Embora tenha um diploma de publicidade e propaganda do IESB, o ativista nunca se adaptou ao estilo de ensino formal, mas queria aprender mais - um aprendizado que não viria dos campi, mas de uma poltrona de hospital.
Catorze anos atrás, a mãe de Ávila teve três AVCs, quase morreu, foi reanimada, ficou em coma, acordou e até hoje tem sequelas, que lhe levam diversas vezes à UTI. "Foi o momento da minha formação política. Ficava dias, semanas em uma cadeira de hospital como visitante, ao lado da minha mãe, lendo. Li os clássicos da história das revoluções, pedia a amigos apostilas e livros que estavam nas ementas de cursos de pós de ciência política, serviço social, sociologia, relações internacionais. Nunca quis um título, um diploma, só queria aprender", conta.
Os pais de Ávila eram servidores públicos, um do Senado, outro do Judiciário. Com o adoecimento da mãe e as altas tarifas do tratamento médico, mesmo com o convênio de saúde, a família se deparou com uma dívida de cerca de R$ 1 milhão. O pai também adoeceu e depois o casal se separou. "Virei o responsável legal por minha mãe. De repente, lá estava eu, na casa dos 20, com uma dívida milionária. Pensei: preciso trabalhar e ganhar dinheiro para cuidar da minha mãe."
Na época, ele colaborava com uma organização que estava intermediando o ingresso de refugiados colombianos no Brasil. Abriu uma cooperativa para lidar com migrações e causas humanitárias e que, no paralelo, passou a oferecer consultoria internacional, com serviços como assistência para obter passaportes e vistos. O negócio deu certo e passou a pagar as contas da casa.
Ávila rodava o Brasil de carro para promover a consultoria internacional, visitando agências de intercâmbio e de turismo. Estava em Florianópolis às vésperas da Páscoa de 2013, quando se deu conta que não via a família fazia dias. "Estava trabalhando tanto, tentando equilibrar a vida entre pagar os boletos, bancar a causa e militar, que não tinha tempo para mais nada. Lembro como se fosse ontem: descobri que era domingo de Páscoa e que minha mãe estava me esperando. Precisava vê-la."
Chovia na Rodovia Régis Bittencourt. O ativista pegou a estrada de madrugada para encontrar a família a tempo e, por volta das 4 horas da manhã, capotou. O carro ficou destruído, à beira de um abismo. Ávila só teve pequenos cortes. "Nasci de novo. Não estou nesse mundo para ficar em cima do muro, decidi de vez nesse dia. Quero é mudar esse mundo", diz.
O acidente foi crucial. Após conversar com a família, ele decidiu deixar a consultoria e se dedicar ao ativismo. Fez uma transição lenta ao longo de 2013, literalmente contando os dias no calendário para se desvincular da companhia - 1º de janeiro de 2014 foi o marco dessa virada. "Preferi desacelerar, diminuir padrão de vida e dedicar minha vida à luta por um mundo melhor", lembra ele, que quitou uma das dívidas milionárias, mas deixou a outra pendente no banco. "Hoje minha fonte de renda vem exclusivamente do Apoia-se."
Cada vez mais envolvido com movimentos sociais, entre mutirões de bioconstrução e agrofloresta, protestos e brigadas, o ativista foi ganhando fama, bem ou mal. De um lado, passou a recrutar novas "formiguinhas", ajudou a instituir o MTST no Distrito Federal, articulou-se com famílias ambulantes, campesinas, indígenas Guarani-Kaiowá, ajudou a mobilizar comunidades agroecológicas no assentamento Canaã, em Brazlândia, e na aldeia Morro dos Cavalos, em Palhoça (SC).
De outro, a presença constante em manifestações lhe deixou no radar das autoridades. Nos protestos contra a Copa de 2014, por exemplo, cogitou-se que Ávila era "um agente internacional infiltrado para desestabilizar o governo distrital", segundo lhe relatou uma amiga que trabalhava na EBC (Empresa Brasil de Comunicação), a agência pública de difusão de notícias do governo federal.
"O pessoal presume que é o cara branco que está liderando a manifestação, que tem segundas intenções, que tem interesses, quer se eleger ou algo assim. 'Thiago, tu quer uma guerra?', uma vez um coronel me perguntou. Eu? Vocês é que estão espancando trabalhador. Eu quero é que vocês parem para ouvir as reivindicações de quem está sendo despejado, atropelado, agredido todo dia", diz.