Cerca de 27 milhões de pessoas vivem no semiárido brasileiro, uma área que abrange um terço do território nacional e atravessa nove estados: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais.
Filho de pequenos agricultores, Sebastião Alves cresceu sendo testemunha da devastação da seca. Ele cursou o ensino médio técnico em agroecologia em Pernambuco e sempre ouviu que, para prosperar, era preciso sair do Nordeste: o clima seco, a vegetação escassa e os habitantes do sertão - os sertanejos - eram o oposto do que o Brasil via (e ainda vê) como desenvolvimento.
O sertão, o deserto árido brasileiro, não é um deserto; tem características predominantemente rurais, clima seco, vegetação seca e solo raso. Pouco valorizado, teve investimentos escassos do governo e nunca abrigou o ideal de desenvolvimento das cidades urbanas, mesmo no imaginário popular.
A região sofreu de 1979 a 1983 um grande período de seca. Enquanto muitos planejavam emigrar em busca de outra vida, Tião queria ajudar a família a encontrar maneiras de melhorar a produção agrícola. "Na época, eu com meus 20 anos, me incomodava, mas não entendia o porquê, não sabia que aquele discurso era alinhado aos interesses do mercado. A época era da divisão de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, as fazendas de gado, as plantações de cana, algodão e soja. Queriam a mão de obra barata dos sertanejos, que, se conseguiram lidar com a dureza da Caatinga, seriam fortes para enfrentar qualquer outro clima", conta.
Ali, começou a tomar forma em sua mente o entendimento de que as escolas que não eram adaptadas ao contexto regional. "Por que estamos estudando isso que não se aplica ao semiárido? Comecei a questionar a escola. Eu não entendia. Quando percebi isso, queria inverter a lógica".