Vasculhando as próprias memórias, Toni Edson encontra uma daquelas histórias que parecem coisa de filme: o ano era 2001, e o sergipano passeava pelo Rio de Janeiro quando encontrou a atriz Camila Pitanga na orla da praia. Na cara de pau, correu para se apresentar e contar que gostaria de poder mostrar algumas das peças escritas por ele ao ator Antônio Pitanga, pai de Camila.
Prontamente, ela anotou três números em um papel, mas a verdade é que Toni nunca teve a chance de ligar. Momentos depois do encontro com a atriz, Toni teve a mochila furtada enquanto salvava uma conhecida que estava se afogando no mar. Todos os pertences foram embora.
Os escritos que queria mostrar a Antônio Pitanga eram partes de uma vida dedicada à arte, a contar histórias, atuar, dirigir, compor e estudar até se tornar mestre em literatura brasileira e doutor em artes cênicas, além de ser professor universitário, andar de perna de pau e mais, recentemente, ser curador de conteúdo de Ecoa. Aliás, logo no primeiro encontro com a reportagem quando apresentou uma música de sua autoria inspirada em Ecoa, ele afirmou que "a canção é a forma mais vasta de utilização da palavra", algo que aprendeu quando visitou Burkina Faso, em 2014.
Mesmo antes de saber disso, a musicalidade já tinha um espaço especial garantido em sua vida. "Minha mãe cantava o dia inteiro em casa. Lembro que, inclusive, ela não acertava a letra de muitas músicas, mas cantava cada palavra com tanta certeza que eu só fui descobrir que a letra não era aquela depois de muitos anos", conta.
É só conversar um pouquinho com ele para entender que o fruto não cai muito longe do pé. Toni vive contando e cantando, herança viva de sua mãe. Às vezes te pega no susto ao soltar o vozeirão. Em outros casos, dá o aviso antes de começar: "eu vou cantar agora, tudo bem?". Afinal, para ele, certas coisas são melhor explicadas e compreendidas quando acompanhadas de melodia.