"Cresci ouvindo dos mais velhos a frase 'ou você come, ou você estuda'. Nesse sentido eu agradeço muito a meus pais por terem me dado a oportunidade de estudar. Mas durante o caminho, o percurso foi difícil. Meus pais são agricultores e minha família sempre foi pobre. Quando eu ia para a escola, eu via o menininho lá com as suas coisas, com material bom, que infelizmente meus pais não tiveram condições de oferecer por causa da nossa realidade. Eu sabia que minha única solução era transformar meu estudo em uma ferramenta para conseguir alcançar meus objetivos.
Moro na Pedra Miúda, zona rural de Mata Grande, onde há cerca de 50 casas e todos são da mesma família. Mas eu estudava na cidade e o meu sonho era ir para a faculdade. Desde cedo eu já estava vendo a chance de realizar meus sonhos sendo suprimida porque o acesso ao transporte era muito precário. Quando chovia, a estrada ficava esburacada, era inviável ir para a escola e a prefeitura não ligava. A gente ficava semanas sem ir para a escola. Muitas vezes eu, meus irmãos e meus primos tínhamos de ir a pé. Sofremos bullying porque quando a gente chegava a pé, como a estrada estava cheia de barro, a gente ficava cheio de terra e as pessoas faziam zoação.
Quando meus pais viram que a gente estava sofrendo, fretaram um transporte. Meus primos não conseguiam ir para a escola porque meus tios não tinham condições de arcar com os custos. Então, juntamos um grupo de jovens e fomos até a porta da Secretaria Municipal de Educação cobrar por transporte escolar decente. Foi aí que começou a surgir o Visibilidade da Juventude Rural."