Nos últimos anos, a comunicadora Christiane Silva Pinto esteve à frente de um processo de transformação no Google Brasil. Fundadora do comitê AfroGooglers, responsável por promover diversidade racial e inclusão na empresa de tecnologia, ela liderou ações de conscientização sobre a questão racial, de capacitação e recrutamento de pessoas negras.
Tudo começou quando cursava o último ano da graduação em jornalismo e decidiu aplicar para o programa de estágio do Google Brasil. No processo seletivo da empresa, candidatos não pleiteiam uma vaga específica, mas são encaminhados de acordo com seu perfil. Christiane, aspirante a jornalista, foi direcionada para a área de recursos humanos, o que quase a fez desistir.
"Eu tinha um super preconceito com RH, achava mega quadrado, careta [risos]", disse a Ecoa. "Mas depois pensei, bom, é o Google, vai ser uma experiência bacana. Qual não foi a minha surpresa quando entrei no RH e amei, justamente pela possibilidade de impacto na vida das pessoas", disse Christiane.
Na época em que ingressou na empresa, em 2013, ela se viu como uma das poucas negras no quadro de funcionários da empresa. Embora não haja um dado preciso sobre a proporção, a estimativa fornecida por Christiane é de que havia cerca de três negros entre os mais de 300 empregados àquela altura. Um para cada 100 em um país onde mais da metade da população é preta ou parda.
A experiência incômoda de ser praticamente a única mulher negra em um espaço não era novidade. "Minha vida inteira foi muito marcada por ser a única ou uma das únicas pessoas negras — e principalmente mulher negra — nos espaços que eu ocupava. Na escola particular, depois na escola pública técnica, que tinha uma prova pra entrar, na USP, nos trabalhos por onde passei. Mas, realmente, o lugar onde eu encontrei o espaço pra fazer algo foi no Google", contou.
Esse espaço se abriu de maneira mais evidente em 2014. Reconhecendo seu engajamento no tema e as ações que vinha desenvolvendo, o Black Googlers Network, comitê global do Google voltado a apoiar a comunidade e cultivar lideranças negras dentro da empresa, a convidou para iniciar e liderar uma célula no Brasil. Assim nasceu o AfroGooglers.
No início, mais uma vez, Christiane era a única pessoa negra do comitê. Eram cinco no total. "Contei muito com a ajuda de alguns poucos aliados que entendiam a importância de ser antirracista", disse. Hoje, 240 pessoas integram o comitê, entre negras e aliadas. O Google não divulga a proporção.