A primeira vez que Sônia pisou em uma favela para levar o "A Casa é Nossa", encontrou resistência.
Na favela do Cantagalo, no Rio, que tem cerca de 20 mil moradores, somente cinco famílias foram à tenda que ela montou para apresentar o projeto. Sem entender a resistência em terem um documento que só poderia ser positivo, ela questionou um morador, que explicou: antes, grupos políticos estiveram na comunidade, levaram os documentos dos moradores e nunca mais voltaram.
"Somente quando eu entreguei o documento, em 24 horas, eles acreditaram no trabalho", relembra Sônia. De lá para cá, já foram 14 anos. E logo as cinco famílias tornaram-se 300, 900 e hoje, mais de 9 mil. Além do Cantagalo, foram também o Complexo do Alemão, de Manguinhos e a Ladeira dos Tabajaras, entre outras comunidades.
Mas Sônia não nasceu em uma favela, e talvez por isso a sua inserção não tenha sido automática. Só que o desejo antigo de um exercício responsável da profissão em que se formou, o Direito, a impulsionou a não desistir no primeiro dia.
A ideia do projeto surgiu logo quando assumiu o cartório do 6º ofício. Na época, pensou que era a hora de colocar em prática esse lado mais humano, em uma escala maior. Ela sabia que seria difícil, porque a instituição "cartório" não figura entre as preferidas da sociedade em geral. Há um estereótipo negativo, ela acredita.
O grande desejo de alcançar muitas pessoas não acompanhou as poucas limitações técnicas do início. Antes, cada morador fazia a medição de sua própria casa, o que gerava um trabalho duplo de Sônia. Com o passar do tempo, uma equipe técnica foi criada e a retificação das plantas das casas virou história para contar.