A consultora de beleza Tiana Laurentino, 35 anos, é uma das moradoras atuantes nas iniciativas da Associação Independente Vila Nova Esperança. Antiga residente da Freguesia do Ó, foi apresentada a Vila Nova Esperança em junho de 2005, quando visitou o local com o marido a fim de comprar um terreno. Do ponto de ônibus da rua Vaticano, a caminhada pela avenida Engenheiro Heitor Antônio Eiras García até a comunidade era longa, coisa de 1 km e 200 metros. Uma trilha erma feita literalmente de barro, de terra batida.
"Fomos eu, meu esposo, que na época era meu namorado, a família dele, e andamos por ali tudo", resgata na memória, "e a fiação elétrica era toda exposta. Fiação, que eu falo, era de 'gato', sabe? A energia, na época, não era legalizada. Fui andando a estrada, mata de um lado, mata do outro. Mas a gente morava de aluguel e eu queria sair do aluguel. O pessoal reclamava da precariedade e da distância, mas insisti para fecharmos o negócio, porque desde aquele tempo sempre achei que quem muda o lugar é quem mora nele. Se você tem o propósito de morar num lugar e de mudar, transformar, você consegue."
Tiana e os parentes, tão logo saíram do aluguel, ficaram sabendo do processo de desapropriação. Ela descreve que a líder comunitária anterior a Lia jogava mais para o lado da especulação imobiliária do que da comunidade. "A mulher queria porque queria que a gente saísse. Não estava a nosso favor", protesta. "Foi quando a gente conheceu a Lia num encontro. Ela enfrentou a liderança da ocasião e falou: 'Não, nós temos os nossos direitos e vamos correr atrás deles.' Tomou frente, começou a participar de reuniões, atuou nos processos, como faz até hoje, e, nossa, a gente teve muitas melhorias."
Uma dessas mudanças, conta, foi o asfalto. "Que não é bem um asfalto, mas um resto de concreto que levamos para lá. Aquilo já melhorou". Outra conquista, emenda, "é que hoje já temos energia elétrica legalizada, conseguimos em 2013. Imagina só São Paulo, uma cidade que é a maior metrópole do Brasil, ter um bairro tão perto do centro sem energia elétrica, nas condições em que estávamos morando. É bem feio, entendeu? Teve gente que nasceu, cresceu e morreu adulto, de 60 anos, e que nunca tomou um banho quente de chuveiro porque em Nova Esperança não tinha energia."
Mãe de um menino pequeno, de 3 anos, e trabalhando fora, Tiana não consegue se dedicar ao voluntariado na horta, mas assumiu a responsabilidade pela entrega do leite, toda segunda e quarta-feira. Ela também sai para fazer compras com Lia e a acompanha nas reuniões. "Não à toa que ela é chamada de 'Lia Esperança'. Eu não tinha tanta fé antes de conhecer ela, e passei a ter fé, esperança, me transformei numa pessoa melhor, no sentido de poder ajudar o próximo, porque sozinho você não consegue ajudar ninguém. É muito gratificante. E realizei sonhos, né? Antigamente aquilo ali era um lugar e hoje é outro. Isso tem o meu dedinho também. É maravilhoso."