Quão longe remonta a música que você escuta? E o jeito como você fala? Afinal, como você se vê no mundo? A cultura de quase cinco milhões de pessoas trazidas à força do continente africano encontrou no solo brasileiro terreno fértil para prosperar em fonemas, filosofias, religiões e ritmos.
Mais do que construir um país, essas ideias resistiram à violência ao firmar aqui seus valores civilizatórios. "Há no nosso país uma experiência africana que não é ensinada", dispara Aza Njeri, 35, pesquisadora de África.
"Aqui é muito comum as famílias morarem no mesmo quintal; o mais velho compra a casa, aí o filho mora em cima, ao lado, na frente e quando você vê, tem sete casas no mesmo quintal! Essa é uma lógica de construção matriarcal de quilombo: uma criança nesse quintal é matrigestada por todos. Todo mundo tem que ficar ligado se o portão está fechado pra criança não ir pra rua, se ela está fazendo uma coisa errada, ninguém vai chamar a mãe, educa-se ali, na hora", explica Aza Njeri.
Mas como será que estaríamos se essas raízes não tivessem passado por um processo de apagamento? Como seria o nosso presente caso a construção do Brasil tivesse sido oficialmente afrocentrada, ou seja, se tivesse a cultura africana no centro em oposição à eurocentrada, que olhou para a Europa como referência?
Uma relação de respeito com a natureza e o poder da palavra, por exemplo, estão entre as Leis de Maat, que norteavam a sociedade de Kemet, nome dado ao Egito antigo e berço da cultura africana. Nesta reportagem, Ecoa dedica-se a identificar algumas dessas características presentes até hoje na vivência brasileira e descobrir maneiras de pensarmos um futuro sustentável para todo mundo.