O paulistano Leandro Calegri faz tratamento de pisos e não pode ir ao trabalho desde 21 março, quando o governo federal determinou que serviços considerados não essenciais deveriam parar para ajudar a conter o avanço do novo coronavírus. Porém o carro que ele usava para realizar as funções continua em movimento, pelo menos dois dias na semana. De terças e sextas, Leandro tem rodado São Paulo para ajudar na distribuição de alimentos orgânicos pela cidade.
Ele é uma das pessoas que têm dado uma mãozinha para pequenos produtores da zona sul da capital paulista conseguirem suprir a procura pelos produtos que tem aumentado exponencialmente por causa do isolamento social. "Antes, realizávamos as entregas com um carro só. Agora precisamos de três. Aí chamei o Leandro para ajudar de vez em quando", conta Vinicius Martuscelli Ramos, fundador do Balaio Orgânico, rede que vende cestas de alimentos orgânicos cultivados por pequenos agricultores da zona rural da região sul de São Paulo.
Os dois se conhecem há quase três anos. Quando Vinicius começou com a iniciativa, Leandro foi um dos primeiros clientes. "Desde sempre, toda terça, ele vem e me entrega. Mas, agora, com a grande demanda, o jogo virou e eu que passei a entregar. A gente tenta ajudar, mas mesmo assim não está sendo suficiente, às vezes."
Antes da pandemia, a média semanal de entrega do Balaio Orgânico era de 35 a 40 cestas de alimentos. Hoje, só em um dia, Leandro sozinho entrega 35. Ao todo, foram 160 cestas entregues na primeira semana de isolamento social em São Paulo, e agora o número está entre 120 e 140 entregas a cada sete dias. "Eu não tenho tempo nem para respirar direito. Trabalho de segunda a segunda sem parar. Temos que aproveitar esse momento", conta Vinicius.
E não tem sido só em São Paulo. A reportagem entrou em contato com outras iniciativas de capitais brasileiras, como Porto Alegre e Fortaleza. Algumas não tinham nem tempo de parar para dar entrevista. "A demanda aqui em nossa cidade sempre foi alta. Agora, com esta situação, percebemos o aumento tanto na demanda quanto nas dificuldades de entregar tudo. São muitos desafios nesse momento de transição", conta Daniela Lagos, representante da Feira Agroecológica do Benfica, em Fortaleza, durante uma rápida troca de mensagens entre uma entrega e outra.