E tudo mudou

A pandemia do coronavírus colocou nova lente sobre as relações humanas e nos forçou a dar valor ao cotidiano

Paula Rodrigues De Ecoa, em São Paulo

Por quanto tempo você já ficou sem abraçar alguém?

Por telefone, a baiana Josane Silva Souza tem a resposta pronta: está há quase quatro semanas sem ter qualquer contato físico com outra pessoa. As informações que chegam dizem que ela pode acrescentar mais alguns meses nessa conta. Quem sabe, poderá abraçar alguém no final de abril ou junho. Tudo ainda é incerto. Em agosto e setembro pode ser, sim, que aconteça. Vai depender de quanto tempo de isolamento social será necessário para conseguir achatar a curva de contágio da Covid-19.

Logo Josane, que sempre valorizou muito o estar sozinha, agora sente falta do calor humano. De se comunicar sem precisar olhar para uma tela de celular. Isolada na casa em que mora, em Ilhéus (BA), assim como milhares de brasileiros têm feito desde o começo de março, ela não encontra os amigos, os familiares e nem vai trabalhar na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), onde é professora de espanhol.

A quarentena significa uma mudança brusca na rotina de pessoas que, de forma geral, nunca precisaram passar tanto tempo presas dentro de casa. De repente, os abraços, beijos, a proximidade ao falar em uma conversa presencial se tornaram proibição médica. Até mesmo um simples aperto de mão, tão comum e corriqueiro, ganhou novo significado.

"Ainda tenho o privilégio de ter uma casa gostosa para ficar, então não pirei. Mas o coração aperta quando penso na minha mãe", comenta a professora.

Por ora, ficar em casa, como Josane está fazendo, é a melhor solução para conseguir frear a propagação da Covid-19. Em levantamento recente, o professor de física da Universidade de São Paulo (USP) José Fernando Diniz Chubaci observou que, após o dia 15 de março, houve uma redução na taxa de contaminação em São Paulo, graças a medidas adotadas por governo e população.

Ninguém pega a mão de ninguém. Ninguém vê ninguém. E as relações sociais se dão por meio da tecnologia. Mas e depois? Quem será a primeira pessoa que você vai querer abraçar quando isso tudo passar? Como você estará depois dessa?

Veio um sentimento que o mundo vinha perdendo um pouco... de reflexão sobre o vazio, sobre o correr do tempo. Algo que foi tão negado pela sociedade do consumo. É claro isso vai trazer angústia para as pessoas. Acho um grande despertar.

Marcelo Veras, psicanalista

Impossível falar em futuro

De cara, a mudança mais visível no comportamento humano têm sido a impossibilidade de ignorar o que está acontecendo no mundo. "Aquela anestesia social, que evitaria a empatia pela dor do outro, se desfez", é a afirmação de Laura Moutinho. Professora de antropologia na USP (Universidade de São Paulo), ela se especializou em estudar sentimentos, justamente para entender como se dão as relações sociais durante e após experiências traumatizantes — como as guerras civis e o apartheid na África do Sul.

Apesar de entender que haverá um mundo completamente diferente do que existia, os especialistas ouvidos por Ecoa para esta reportagem, afirmam ser impossível cravar quais serão exatamente essas mudanças. Além da impossibilidade de falar sobre o futuro, no caso do Brasil, os estudiosos do comportamento e da psique do ser humano afirmam que a dificuldade em traçar previsões parte da falta de episódios recentes que tenham colocado toda a população suscetível a uma mesma situação. Especialmente no que diz respeito a perdas.

"Não acho tão ruim a morte ter ocupado tantos espaços. A gente se afastou muito da ideia de morte. Estamos obcecados pela ideia da imortalidade. Pelo hedonismo da felicidade, que escondia uma fragilidade enorme de pensar nas comezinhas da vida", diz o psicanalista Marcelo Veras.

Laura relembra que, em momentos como esse, o jeito desigual de operar de uma sociedade, como a brasileira, vem à tona. Até então, o que existiam eram traumas isolados e que ocorriam com um determinado grupo, como os assassinatos de jovens negros nas periferias brasileiras, que deixam mãe clamando por justiça sem conseguir resposta do Estado e, na maioria das vezes, sem comoção da sociedade civil.

"Agora [com a Covid-19] há um sentimento de desamparo que é nacional, uma experiência de trauma nacional", diz a antropóloga.

Seja pelo bombardeio de notícias a todo tempo ou pela tomada de consciência de que todos estão no mesmo barco, a ameaça da Covid-19 não é só contra a saúde, mas também contra o funcionamento social e econômico de uma sociedade. E isso acaba batendo à porta de todos.

Ao fim de tudo, um novo mundo

Em 18 de março, ao final de uma coletiva de imprensa para atualizar o número de infectados pelo coronavírus, o ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta, afirmava que, ao final desse período "não haverá vencedor nem perdedor, mas um mundo diferente". De forma sutil, a avaliação trazia uma mensagem que levanta questionamento importante: quando a pandemia acabar será possível voltar ao normal?

Você possivelmente já fez planos em relação ao que deseja fazer quando puder sair na rua, como fazia antes. Talvez ir a uma festa com todos os amigos, correr para abraçar os pais, ver seu time no estádio, visitar aquele parente que há tempos não vê, pisar na areia... No caso da paulistana Solange Pereira o roteiro vai ser mais ou menos o seguinte: reunir todos os amigos em uma roda de samba com cervejinha gelada e tudo a que tem de direito. Aposentada, a moradora da Bela Vista, bairro central da cidade de São Paulo, passava a maior parte de seu tempo fora de casa.

A rotina era ir a teatro, cinema, biblioteca, praças, rodas de samba... Isso explica por que, logo no terceiro dia de quarentena, não aguentava mais ficar parada. "Estou pensando muito que as pessoas vão sair diferentes disso tudo. Não tem como voltar a sermos o que éramos antes. A gente acordou para uma situação que não existia, que nunca vivemos. Tudo que era normal foi embora, né?", questiona.

Um dos principais nomes do movimento brasileiro de reforma psiquiátrica, o psicanalista e pesquisador da Fiocruz, Paulo Amarante afirma que é preciso começar a digerir essa ideia como uma nova realidade.

O que era comum ou se considerava normal, agora, de fato, não existe mais. Isso pode parecer ruim, mas a busca por novas formas de ver e viver a vida, segundo Amarante, faz parte da natureza humana.

Não sou muito favorável ao conceito de resiliência. Essa ideia que vem da física por causa do metal que pode passar por transformações no seu formato, na sua estrutura e voltar ao normal. O ser humano não volta ao normal quando passa por eventos como esse -- ele procura uma outra norma.

Paulo Amarante, psicanalista

O que diz nosso passado?

Refletir mais sobre as próprias ações, sobre o que pensamos do outro, valorizar as relações, entender como uma ação pode afetar outra pessoa... Todos esses comportamentos podem ser estruturais, como afirma o psicanalista Paulo Amarante. Ou podem durar só até o fim da pandemia.

"Nós estamos falando aqui de grandes perdas. De morte. Não adianta negar uma situação como essa, negar que ela está aqui. Temos que tentar absorver todo esse momento, elaborar. É muito provável que você tire lições valiosas que vão te marcar e marcar a sociedade", afirma.

Pandemias anteriores, como a gripe espanhola, mostraram que a área da saúde passará por importantes transformações: o tratamento de pacientes com Covid-19, remédios, vacinas, tudo isso precisa ser desenvolvido. Mas há um ponto muito mais subjetivo que uma crise como essa afeta: a conectividade.

A historiadora Christiane Maria Cruz de Souza, doutora em História das Ciências e da Saúde no Núcleo de Tecnologia em Saúde do Instituto Federal da Bahia (NTS/IFBA), conta que, com a gripe espanhola, as pessoas desenvolveram um instinto natural de sobrevivência, em muito pautado pelo medo existente, que as fazia compreender a gravidade da situação e, a partir disso, agir.

Mas a crise também despertou solidariedade. Ainda que de, certa forma, irresponsável. "Nós temos uma cultura de um calor humano, né? Na época, muitos que estavam saudáveis passaram a cuidar de quem adoecia. Iam muito aos enterros, porque os rituais de morte, de velar o corpo eram muito mais fortes. Desenvolviam um sentimento de empatia, que vinha do desespero pela situação. E isso fazia com que nem pensassem se também iriam adoecer ao cuidar desses enfermos." Para ela, em época de epidemias, o entendimento de que, se um adoece, o coletivo todo pode adoecer começa a ser desenvolvido.

O mesmo defende o professor de antropologia social e coordenador do Núcleo de Estudos Animais, Ambientes e Tecnologias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Jean Segata, apesar de não ser tão otimista em relação a uma grande transformação no jeito do ser humano se relacionar com o outro e com o ambiente em que vive. Ele acredita que este é um grande momento de oportunidade para mudança, em que se percebe, pela primeira vez na história recente, que a ação individual tem consequência na vida coletiva.

Um dos nossos grandes problemas é que temos vivido sempre na tentativa de ser a exceção humana sobre o resto do planeta. Julgamos ter o direito de transformar o mundo ao redor e tudo acaba virando recurso. Acontece que estamos vivos neste mundo, assim como os animais, os vírus, as bactérias. Ou todos vivemos harmonicamente ou nos contaminamos e adoecemos.

Jean Segata, antropólogo e coordenador do Núcleo de Estudos Animais, Ambientes e Tecnologias da UFRGS

Gripe espanhola teve isolamento e resistência

O negacionismo em relação à pandemia presente em alguns discursos do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) não é exclusividade do nosso tempo. As falas que amenizam a gravidade da Covid-19 e suas repercussões poderiam ter sido herdadas de governantes que tiveram de lidar com outra pandemia há 100 anos.

Durante a gripe espanhola, entre 1918 e 1920, também houve uma tentativa de minimizar o contágio e gravidade do vírus. A estimativa, porém, é que entre 50 milhões e 100 milhões de pessoas tenham morrido ao redor do mundo à época.

Por anos, a historiadora Christiane Maria Cruz de Souza se dedicou a estudar doenças e epidemias que acometeram o Brasil nos séculos 19 e 20. Ela explica que sempre existiu uma demora em reconhecer que existe uma pandemia em curso.

"As cidades possuem um equilíbrio muito frágil. Vivemos em uma corda bamba entre a violência e a violação de direitos humanos. Então, uma ameaça de pandemia é uma ameaça também ao equilíbrio da cidade. Existe um medo de chegar a um momento crítico em que ocorra a exposição dos problemas que esses governantes não conseguiram resolver antes do vírus chegar."

Tal qual no Brasil de 2020, quando a Espanhola chegou a Salvador, os políticos locais investiram na busca por culpados pela disseminação do vírus. Enquanto autoridades sanitárias e médicas se desdobravam para chegar ao diagnóstico da doença e definir quais medidas deveriam ser tomadas para tratar e conter o adoecimento da população.

E quais eram as principais medidas de proteção e prevenção contra a Espanhola? Lavar as mãos e isolamento social, as duas principais recomendações da Organização Mundial da Saúde para evitar a propagação do novo coronavírus.

Na opinião da historiadora, são exatamente nesses momentos de crise que se tem uma tomada de consciência da importância e eficácia dos sistemas de saúde. "A gente começa a ver mais pessoas entendendo melhor como a Saúde funciona no país. A ciência, tão desacreditada nos últimos anos, passa a demonstrar cada vez mais o fundamental papel dela para o funcionamento da sociedade", diz Christiane.

Porém o caminho até a construção de uma nova forma de olhar para esta área é conturbado. Em determinados momentos da História, como em casos mais recentes de adoecimento por ebola, por exemplo, a relação de comunidades com profissionais que dedicam a vida ao cuidado de pessoas infectadas tem sido afetada de forma negativa em um primeiro momento. E isso graças a boatos, ou as tão repetidas "fake news".

Em países africanos, como o Congo, as pessoas passaram a acreditar e espalhar informações por WhatsApp de que os responsáveis por levar a doença para lá seriam os médicos enviados para ajudar no tratamento do vírus, como afirmou em entrevista à BBC Pascal Vahwere, médico que combate a doença no país, muitos passaram até a achar que "ebola é um negócio lucrativo para os políticos." O assunto ficou tão sério que muitos profissionais da saúde começaram a ser fisicamente atacados no país.

Algo parecido ocorreu no começo do surto do novo coronavírus no Brasil. Ao usar transportes coletivos ou carros de aplicativo para chegarem ao hospital, alguns profissionais da saúde relataram certa hostilidade de pessoas que transitavam nos locais. "Estava de branco na estação Paraíso esperando o trem quando jogaram uma marmita em mim do andar de cima", relatou ao UOL uma profissional que não quis se identificar, em março deste ano.

Para Denise Pimenta, doutora em Antropologia pela Universidade de São Paulo (USP), em casos de epidemia um dos mais duradouros sentimentos é o de ressentimento. Ela, que chegou a morar em regiões da Serra Leoa enquanto estudava sobre o surto de ebola no país, conta que existe uma relação complexa entre autoridades e as pessoas de comunidades mais rurais, onde os responsáveis pelo cuidado passam a ser vistos quase como vilões que promovem a descontinuidade das relações humanas.

"Conheci uma médica chamada Doris, em Serra Leoa. Ela passava nas casas examinando as pessoas e tentando encontrar possíveis infectados. Isso começa a gerar mais ressentimento, porque as pessoas eram mandadas para centros de tratamentos que ficavam longe. O que acontece é que muitos familiares ficaram muito chateados com os agentes de saúde por causa disso, porque acharam que eles eram responsáveis por romper um laço de afeto", explicou Denise.

Ou seja, existia a sensação de que os médicos eram pessoas que quebravam a relação de vizinhança, de comunidade, de parentesco e tantos outros laços que até então representavam a normalidade das relações humanas.

O normal era bom?

Apesar de existirem experiências individuais positivas, o psicanalista Paulo Amarante afirma que esse é o momento de questionar se a experiência coletiva da sociedade era tão boa a ponto de querermos voltar ao que era considerado "normal". Especialmente em se tratando de uma sociedade que normalizou diversas questões diretamente ligadas à desigualdade de gênero, classe, raça e orientação sexual.

Este mesmo ponto é defendido pelo antropólogo Jean Segata. Para ele, existe uma grande tragédia em curso com a Covid-19, e ela anda de mãos dadas com outras crises no Brasil e no mundo.

O aquecimento global, por exemplo, a extrema desigualdade social brasileira, questões de gênero e raciais... Para que todos pudessem ter as mesmas condições de lutar contra a doença, seria necessário, antes, resolver os inúmeros problemas que acompanham uma sociedade e democracia doentes.

Dados do Ministério da Saúde divulgados no fim de semana permitem análises mais detalhadas sobre as questões sociais envolvidas em uma pandemia e como populações historicamente mais vulnerabilizadas tendem a ser mais afetadas. De todas as hospitalizações pela Covid-19, 18,9% são de pessoas pardas e 4,2% de pessoas pretas, mas as porcentagens sobem quando se trata de óbitos, ficando em 28,5% e 4,3%, respectivamente.

"Não dá para pensar no que chamamos de saúde de qualidade e relações sociais saudáveis sem levar em conta os ambientes em que as pessoas estão. Porque, se ignoramos isso, vemos exatamente o que acontece nos dias de hoje: tendência a converter doenças em problemas étnico-raciais", diz.

Isso significa que existe uma inversão na ordem em que os fenômenos são percebidos: em vez de compreender que a falta de serviços ofertados pelo Estado agrava o problema, há culpabilização de determinados grupos. Então, a zika acaba virando "coisa de nordestino". A ebola acaba sendo "culpa do continente africano".

O brasileiro Sandro Strapasson, que mora no sul da Itália desde novembro de 2019, tem o observado também um efeito positivo: a pandemia como agente para a revisão de preconceitos. "Comecei a ouvir as pessoas que moram comigo falando sobre os médicos cubanos. Comentários como: 'sempre ouvimos coisas não tão legais sobre Cuba, e agora eles são um dos primeiros a chegar aqui para ajudar a gente'. Algumas coisas estão mudando por aqui", disse.

Busca por conexões, ainda que virtuais

"Creio que estamos na iminência de ver desaparecer o mundo que conhecemos. Muitos sentem dessa forma e estão apreensivos. Há, de um modo geral, mais empatia com a dor de outros distantes. Os mortos poderiam ser das nossas famílias...", afirma a antropóloga Laura Mortinho.

Com isso, as redes sociais têm se firmado como o meio para milhares de pessoas para se manterem conectadas a amigos e familiares. É só olhar seu feed do Instagram. Todos os dias, os stories ficam cheios de pessoas fazendo lives ou compartilhando imagens de videochamadas.

"Todo dia tento falar com alguém: minhas irmãs, o pai dos meus filhos, algum amigo... De certa forma essas chamadas por telefone acontecem para cobrir o buraco do abraço", diz a aposentada paulista Solange Pereira.

As novas relações sociais impostas pela pandemia afetam também os jovens. Devido à ansiedade inerente ao momento, a estudante de 17 anos Pamela Pereira de Oliveira, do Mato Grosso do Sul, tem falado quase diariamente com os familiares que estão longe, em especial o avô, que está em São Paulo. "A gente não sabe o que pode acontecer. Fico com medo do que pode acontecer com eles, e aí me aproximei mais mesmo", conta.

O distanciamento social também trouxe reflexões mais profundas. Pamela tem pensado sobre como já esteve na companhia de pessoas e, por muitas vezes, não deu a devida atenção ao momento. Agora ela tem sentido na pele a importância que ver, falar e tocar outro ser humano tem na vida. Até um simples "bom dia" faz falta.

Vai ser uma lição de vida incrível sobre coisas que a gente tinha na mão, não valorizou, não viveu de verdade e teve que ser tirado da gente repetidamente, de uma vez só, para aprender a lição. Eu sempre ouvi falar que tudo que é lição era dolorido. Mas eu não tinha dimensão de quanto pode doer.

Solange Pereira, aposentada

A crise como condição para a evolução

A chegada a um momento crítico, em que se quebra a relação com o que era tido como normal, cotidiano e rotineiro - seja isso algo bom ou não para o coletivo —, faz com que cada pessoa tenha de repensar a sua essência de vida.

"A ideia de crise é tão cara à psicanálise, porque acredita-se que não há uma evolução verdadeira de alguém que não entra em crise. Ela é um ponto de mutação, é um ponto em que você chega a um limite de uma região fronteiriça, em que você precisa tomar alguma atitude para conseguir superar a situação", diz o psicanalista Paulo Amarante.

Os reflexos do isolamento social bateram de forma parecida para as pessoas entrevistadas pela reportagem. De norte a sul do país, todas dizem estar mais pensativas. "Tenho refletido sobre o que é importante na vida. Moro do lado da praia, que é deserta, nunca tem gente. Fui lá logo no início da quarentena, fiquei sentada vendo o mar e me questionando o porquê de eu nunca ter tempo de ir até a praia. Tenho pensado muito sobre o trabalho. Essa necessidade de estar sempre produzindo. O que estou fazendo com meu tempo, com minha vitalidade?", questionou a professora baiana Josane.

A introjeção a partir desses episódios é uma ferramenta para tentar organizar a confusão e incerteza que o momento traz. As reações individuais, no entanto, são imprevisíveis, como afirma o psicanalista Paulo Amarante. As respostas dependem muito da estrutura prévia de cada pessoa e das redes de apoio que possuem.

Há determinada coisas que são chamadas de acontecimentos -- coisas que, uma vez que elas se inscrevem na cultura, não dá para voltar atrás. Por exemplo, o 11 de setembro deixou uma marca que faz todo mundo saber onde estava quando ocorreu o ataque às Torres Gêmeas. No futuro, vamos nos perguntar: onde você estava quando aconteceu o grande isolamento da pandemia de Covid-19?

Marcelo Veras, psicanalista

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