Em uma floresta tropical um homem maltrapilho, magro, aparentemente perturbado e com barba longa joga seguidas vezes fósforos acesos no chão. Acende o seu cigarro, traga, despeja o líquido de uma garrafa pet no chão e, em pouco tempo, a densa vegetação arde em chamas.
A cena é a abertura do clipe da faixa 'Sistema Obtuso', de Criolo e Tropkillaz, lançado há pouco mais de quatro meses. Os versos miram a "geração trap"; narram uma degradação individual e urbana, com vício em drogas e em álcool, mas o vídeo tem como cenário a destruição intensa da natureza. Estão lá os impactos de severas mudanças climáticas: chamas na Amazônia, neve no Rio de Janeiro e um amontoado de lixo a se perder de vista em Brasília, em frente ao Palácio do Planalto. Parece uma sequência do vídeo anterior de Criolo, "Boca de Lobo", que termina com um enorme morcego sobrevoando a capital federal.
Criolo afirma que as cenas fictícias da arte visual retratada em sua obra, que conta com a direção musical do músico e produtor Daniel Ganjaman, são reflexo de uma preocupação mundial e nacional com a preservação da floresta amazônica. "O clipe mostra qual será o resultado se continuarmos nesse ritmo frenético de destruição. Irá sobrar apenas uma montanha de escombros humanos em um cenário apocalíptico. Para alguns pode soar como exagero, mas basta comparar como está o planeta hoje e como ele estava há 100 anos. O que estamos vivendo já é o cenário cruel do resultado deste abandono", diz o rapper a Ecoa.