Davi Kopenawa: um yanomami do Brasil. Assim o xamã e escritor se apresentou para uma plateia cheia e emocionada na Bienal do Livro de São Paulo. Uma salva de palmas veio em seguida — curiosamente puxada pelo escritor, ambientalista e líder indígena Ailton Krenak, que veio prestigiar o amigo.
"Primeira vez que eu vejo tanta gente, parece formiga", disse Kopenawa ao abrir sua fala. Não era exagero. O barulho que a multidão fazia ao lado de fora do quadrado de vidro onde acontecia o debate exigia muito esforço do líder yanomami.
À convite do SESC, Kopenawa veio a capital paulista para falar no painel "Amazônia dos povos e da biodiversidade", composto ainda pelo jornalista e ambientalista Felipe Milanez e mediado pela filósofa Cristine Takuá.
Mesmo com o barulho das "gentes-formigas" Kopenawa insistiu. Queria falar e se fazer entendido por um público majoritariamente não indígena. Foram quase duas horas de conversas sobre a situação do meio ambiente no Brasil.
E da mesma forma que faz em seu livro "A Queda do Céu" (Companhia das Letras, 2015), fez ao vivo: alertou sobre os perigos de destruir a floresta e de tentar acabar com os povos indígenas e seus defensores. Desejou que o livro e aquelas palavras que falava ao microfone servissem como uma flecha no coração da sociedade não indígena para sensibilizá-la e, assim, quem sabe, conseguir mais apoio para os povos indígenas, suas terras e florestas brasileiras.
Agora, em janeiro de 2023, o povo yanomami sofre uma grave crise humanitária causada pelo garimpo ilegal na região onde vivem. O Ministério da Saúde decretou emergência de saúde pública para lidar com a situação e o governo prevê uma força tarefa para expulsar os invasores do local.