"Aqui entra o homem, o delito fica lá fora" é o que se lê em uma placa na entrada da Apac de São João del-Rei (MG), unidade prisional onde cerca de 330 homens e 50 mulheres cumprem pena atualmente.
Como outras dezenas de Apacs que existem no Brasil, a de São João del-Rei não é uma prisão comum. A frase da entrada é uma das premissas da metodologia da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados, entidade que administra mais de 60 presídios no Brasil hoje aplicando um modelo próprio.
Na chegada, são visíveis algumas das características mais propagandeadas desse modelo, como o fato de não haver agentes penitenciários ou vigilância armada e de que os próprios detentos — ou recuperandos, como são chamados os que cumprem pena ali — têm as chaves dos portões.
O local também não realiza a chamada revista vexatória, procedimento que obriga familiares de presos a se despir completamente, agachar sobre um espelho, contrair os músculos e abrir com as mãos o ânus e a vagina, e que é condenado por organizações de direitos humanos. Normalmente, segundo a gerente geral Daniela Fazzion, é feita apenas uma revista superficial, em paralelo à conscientização dos familiares.
Antes mesmo de cruzar as grades e portas da unidade, porém, a visão panorâmica do lugar se choca com as pré-concepções de como é uma prisão.
Com jardins bem cuidados - pelos próprios recuperandos, como tudo o que se vê ali -, uma horta com pequenos pés de alface à vista, uma capela, uma quadra, um centro médico, viveiros de animais e oficinas de marcenaria, serralheria e produção de tijolos ecológicos, sem muros ao redor, a Apac de São João del-Rei pouco se assemelha ao imaginário de uma cadeia.
Em 18 de maio, cerca de 300 pessoas, entre detentos, funcionários e convidados participaram da pré-estreia especial do documentário "Do amor ninguém foge", gravado na unidade prisional em 2019 pelos irmãos Julio e Daniel Hey. O filme ainda inédito aborda o método da Apac e traz depoimentos dos detentos. O evento foi acompanhado pela reportagem de Ecoa.