O oncologista Drauzio Varella estudou em Nova Iorque, Amazônia, Tóquio, na extinta União Soviética e se formou médico no suntuoso prédio da Faculdade de Medicina da USP. Os outros 30 anos de carreira foram vividos em prédios à margem, mas também de dimensões colossais, como o antigo Carandiru e a Penitenciária Feminina da Capital. Aos 78, Drauzio acaba de lançar um novo livro para unir as duas experiências de vida.
Em "O exercício da incerteza" (Companhia das Letras, 2022), o médico detalha os avanços da medicina, a universidade, o ofício como médico, as cadeias, o avanço do crack nas periferias, o medo da morte, o cigarro, a família e a atuação como comunicador na televisão e internet.
Drauzio fechou a clínica para dedicar-se à comunicação e ao atendimento no Centro de Detenção Provisória (CDP) do Belém, em São Paulo (SP). O trabalho nas cadeias gerou sucessos literários como "Estação Carandiru", "Carcereiros" e "Prisioneiras". O novo título foi sugestão da editora e caiu bem. Para ele, o ofício exige aprimoramento em diferentes situações. "A medicina é um trabalho incerto. Duas pessoas nunca são exatamente iguais".
Ironicamente, o médico que convive com a morte ainda tem certo medo dela. Para despistá-la, ele se mantém em movimento, correndo maratonas e atendendo os presos com quem tanto aprendeu. Ainda hoje, afirma ser o único médico no CDP onde trabalha — e não pretende parar. "O trabalho na cadeia tem um sentido de urgência", diz nesta entrevista à Ecoa.