Estávamos sentadas sobre meu antigo sofá quando minha mãe disse: "Não tem mais jeito, é melhor comprar um novo!". A frase me impactou. É verdade que ele já estava desfigurado pelo poder feroz das patas de dois gatos, me causando uma dor nas costas danada. Mas a ideia de jogar fora e investir em outro me levou para as cenas seguintes.
Além de me imaginar gastando um dinheirão em uma peça nova, vi o móvel velho empilhado em uma caçamba qualquer. Pensei para onde ele seria levado. Um lixão? A beira de um rio? Quanto tempo a espuma do estofado, o ferro das molas e a madeira da estrutura levariam para se degradar?
Olhei de novo para o sofá e fiquei pensando se não haveria como reaproveitá-lo. Aí viajei novamente: e se tudo que compramos ou produzimos pudesse ser usado novamente em vez de virar lixo inútil? Foi então que descobri que não ando pensando nisso sozinha.
Pelo contrário, tem mais gente se dedicando a pesquisar e praticar o que tem sido chamado de economia circular. Trata-se de um conceito baseado na ideia de que se pode e deve evitar ao máximo o desperdício e aumentar o ciclo de uso de todo e qualquer material.
Enquanto o modelo clássico, também chamado linear, se baseia em retirar da natureza, produzir e jogar fora, o circular tem o objetivo de fazer com que tudo retorne à cadeia de produção. Dessa forma, a extração de recursos naturais é reduzida, além de minimizar os gastos nos processos.
"É uma nova mentalidade que considera que nossos recursos são finitos e que não dá mais para explorar a natureza de forma indiscriminada", diz Susana Farias Pereira, coordenadora do Centro de Inovação da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas.
Estamos falando de reciclagem, certo? Também. Mas não só. A economia circular vai muito além disso. Ela se importa com todo e qualquer resíduo e como ele poderá ser reutilizado, pensando desde o design do produto até o consumo final. A meta é lixo zero.
"Se nós, consumidores, pensarmos somente em reciclar, vamos continuar consumindo sem nos preocuparmos com o tipo de recurso usado naquela roupa, no tênis, na embalagem...", completa Susana.