Sala de aula e mão na terra

Escolas agrícolas introduziram modelo de ensino que se divide entre aulas na escola, em casa e na roça

Paula Rodrigues De Ecoa, em São Paulo

Quem caminha pela primeira vez pelo mato de Anchieta, cidade no interior do Espírito Santo, pode se surpreender com o prédio grande, azul e antigo que surge em meio ao verde. A construção está ali desde os anos 1930 e há 52 anos se transformou em uma instituição de ensino voltada para educação no campo. Recebeu nome e sobrenome de Escola Família Agrícola (EFA) Olivânia, de apelido Efa-O. Não é a única do tipo no Brasil, mas foi a primeira.

Atualmente, as escolas agrícolas estão em 22 estados do país, sendo a maior parte no nordeste. Espelhadas em um modelo europeu de ensino e fruto de um combinado de luta de movimentos sociais e ações de missionários católicos, elas chegaram como uma resposta ao aumento do êxodo rural e ao crescente empobrecimento das famílias capixabas na década de 1960.

"Muitas pessoas nem sabem que as Efas existem, né? E é completamente diferente de qualquer outra escola. Você aprende tanta coisa, não só a teoria, aprende o que é ser cidadão. Sem contar que você acaba convivendo com pessoas completamente diferentes de você, consegue construir laços com essas pessoas e os professores. Não tem essa hierarquia que as outras escolas têm, do professor estar acima do aluno. Ali, a gente é uma grande família," conta a estudante da Efa-O Ana Carolina Rocha, 19.

A utilização da pedagogia da alternância — em que alunos passam uma semana estudando em casa e outra na escola — a aproximação entre família, comunidade e professores, a aplicação na prática dos saberes aprendidos para auxiliar a agricultura familiar local são alguns dos pontos principais de uma Escola Família Agrícola, que vem contribuindo para transformar o meio rural do Brasil, focando principalmente no fortalecimento da autoestima e da identidade da juventude rural.

Pedagogia da alternância

Quando foi importada para o Brasil, a Efa Olivânia também fez nascer pela primeira vez a aplicação da pedagogia da alternância no país. Criada em 1935, é uma metodologia de ensino que facilita a interação entre alunos, escola, trabalho e meio rural. Nela, o estudante, que também é chamado de alternante, estuda cinco dias de forma integral ou semi-integral na escola e depois volta para casa para dar continuidade aos estudos, testando o que aprendeu na prática, seja nos próprios pedaços de terra da família ou com agricultores da comunidade.

"As Efas organizam-se a partir do tempo escola e do tempo comunidade e são os planos de estudo que ajudam a integrar esses dois momentos de aprendizado. É uma forma de educar preocupada com a integração entre teoria e prática e a transformação social dos locais onde vivem esses alunos", explica o sociólogo Leonardo Rauta, que durante o ano de 2013 teve a experiência de se tornar professor da Efa Olivânia e publicou um amplo estudo sobre essas escolas em 2019.

Para conseguir dar conta das demandas de todos os alunos, as Efas funcionam em um esquema sistematizado para atender um número reduzido de alunos por vez. Ou seja, enquanto uma turma está em casa, outra está na escola, e vice-versa. Mesmo a quantidade total de estudantes que atendem não costuma passar de 250.

Apesar da pedagogia da alternância ser utilizada em todas as Efas do Brasil, esse modelo nunca chegou a ser amplamente replicado em outros tipos de escolas no campo, como observa o sociólogo. Porém seria necessário observar como esse modelo tem influenciado na formação dos alunos, conferindo "um sentido aos conteúdos ministrados em sala de aula", como analisou o sociólogo em sua pesquisa, mas também toda a comunidade, fortalecendo especialmente as práticas de agricultura familiar, "reconhecendo saberes de sujeitos historicamente excluídos dos processos de educação formal, restituindo-lhes, portanto, a dignidade roubada em vista dos séculos de abandono por parte do Estado."

Para aquelas escolas que, por diversas razões, não fazem uso da pedagogia da alternância, seria importante que elas adotassem ao menos dois princípios dessa pedagogia: reconhecer o potencial educativo que têm as experiências cotidianas dos alunos (as festas comunitárias, os mutirões de trabalho, a vida associativa, a sua forma de organizar a produção etc.) e valorizar o espaço rural e aqueles que nele vivem. Essa postura é fundamental para que os jovens e suas famílias vejam o campo com um espaço de realização de seus projetos de vida e futuro.

Leonardo Rauta, sociólogo

Como funciona na prática?

As Efas funcionam de uma forma cíclica: todo conhecimento aprendido em sala de aula é aplicado na prática quando os alunos voltam para passar uma semana estudando em casa. E tudo que aprenderam no seio familiar e comunitário volta para a escola. "Desta forma, o jovem entende que a sua prática familiar é importante e fundamental para o crescimento enquanto pessoa e também da comunidade como um todo, no contexto socioeconômico e ambiental," diz a professora da Efa-O, Swenka Volpato Gaigherdiz, que dá aulas de agricultura e culturas, administração e economia rural, biologia e ciências

A grade escolar — estabelecida antes do ano letivo em um plano de curso diferente para cada Efa — é uma mistura dos conteúdos estabelecidos pelo Ministério da Educação (MEC) com uma parte mais técnica voltada à agropecuária. Já os resultados e conhecimentos adquiridos fora da instituição precisam ser apresentados quando os estudantes retornam às Efas. A estudante Ana Carolina explica como funciona na prática estudar uma semana em casa e outra na escola.

  • Na escola

    "Passamos cinco dias na escola, de segunda a sexta. Aprendemos das 7h às 17h sobre teoria, tanto assuntos que estão na base curricular, como português e matemática, quanto sobre agricultura, zootecnia, topografia... E ainda temos cursos e palestras."

  • Em casa

    "No final de semana voltamos para casa. Todo o conhecimento que a gente adquire na escola, passamos para a prática na semana que estamos em casa. A gente tem atividades para cumprir referentes às matérias que aprendemos, além de várias outras atividades pedagógicas para revisar no meio familiar e comunitário. Por exemplo, uma vez a gente realizou apresentações na comunidade para incentivar agricultores da região a realizarem análise de solo para conseguirem saber com precisão a quantidade de nutrientes que ele necessita."

Transformação é trabalho coletivo

Mas esse sistema só funciona porque existe uma participação ativa da família e da comunidade no processo de aprendizagem do aluno. Para a professora Swenka, "a relação com a grande maioria das famílias é de proximidade e cumplicidade, visto que na pedagogia da alternância, o jovem e a família ensinam e aprendem conhecimentos de forma alternada e contínua. As famílias têm, na verdade, carinho pelos professores, pelo caráter de orientação, de sempre acolher. É o que nosso fundador Padre Humberto sempre falava: de olhar os menos favorecidos, procurando sempre acolher e promover."

Mesmo antes de entrar em uma Efa, os pais, mães ou responsáveis que desejam matricular o jovem precisam ir até a escola, onde vão tomar conhecimento de todos os compromissos que a família terá com o processo de aprendizagem do alternante.

"Explicamos como funciona a pedagogia de acordo com as atividades que terão que realizar, os Planos de Estudo, e outras atividades inerentes à proposta pedagógica. A família analisa e assume o compromisso de contribuir para com o processo formativo do jovem", conta Marcos Meneguelli Bissa, diretor da Efa-O. A partir daí, todos são avaliados em reunião com equipe de docentes. Para aceitar a matrícula, a Efa costuma priorizar pessoas que moram próximo à escola para facilitar a proximidade necessária entre o meio familiar e o de ensino.

Quando o aluno entra, a relação entre todas as partes é estreitada por meio do que chamam de Caderno de Acompanhamento. É nele que os professores anotam pontos positivos ou negativos dos jovens durante o período em que estão em sala de aula e, posteriormente, é a vez dos pais ficarem responsáveis por observar e documentar o desempenho dos jovens quando estão em casa.

"Neste caderno, escrevemos sobre as atividades realizadas na escola, as aulas, palestras, cursos e também um certo planejamento do que vamos estudar em casa. O professor fica responsável por escrever comentários sobre nossa semana: o que fizemos, se participamos da atividade ou se desrespeitamos algo para a família ficar ciente do que aconteceu", conta a estudante Ana Carolina.

O trabalho dos professores, também chamados de monitores é fundamental para a continuidade e sucesso da metodologia. Como as Efas funcionam em sistema de internato ou semi-internato, são os docentes os responsáveis por acompanhar os alunos quando estão na escola. Cada turma possui uma espécie de monitor responsável. É ele ou ela quem precisa saber de todos os problemas e conquistas de determinada turma. Também faz o papel de mediador, que leva as demandas apresentadas pelos alunos à diretoria da escola, e vice-versa. É um trabalho que o sociólogo Leonardo descreve como intenso.

"Não é 'só' dar aulas, o monitor acompanha todos esses alunos durante a sessão escolar e nas atividades que ele fará em casa. Acompanha a realização das tarefas, visita cada uma das famílias dos alunos ao menos uma vez ao ano, realiza atividades para arrecadar recursos para a escola, articula prefeituras para garantir o transporte escolar para os alunos, participam de atividades de entidades parceiras, recebe visitantes e parceiros na escola, auxilia na conservação de estruturas físicas da escola, organiza mutirões de colheita e tudo mais que se fizer necessário para a manutenção da escol", explica.

Ser professor na Efa-O ou em qualquer Efa não é fácil e não é apenas uma escolha profissional, é uma escolha política, de se colocar ao lado dos agricultores familiares e construir uma escola que atenda às suas necessidades.

Leonardo Rauta, sociólogo

O dilema dos jovens do campo

Estudante da Efa Olivânia desde os 11 anos, Ana Carolina se formará neste mês de dezembro. Por não existir universidade no meio rural em Anchieta, o plano para o futuro é de cursar veterinária ou agronomia em alguma instituição de ensino superior na capital do Estado. "Mas meu intuito é ir para a cidade, conseguir esse conhecimento técnico maior e retornar para cá e colocar em prática tanto os aprendizados da universidade quanto da Efa", afirma a jovem.

Com a chegada deste modelo de ensino ao interior do Brasil, o debate sobre ficar no campo ou ir para a capital ganhou uma nova camada. Se antes o jovem precisava sair para ter acesso a uma educação de qualidade, a Escola Família Agrícola apresenta para ele ou ela a possibilidade não só de estudar, mas de enxergar caminhos de sucesso profissional nas áreas rurais. Para os estudantes, como define Ana Carolina, é a certeza de que ir estudar em espaços urbanos não seja mais uma obrigação, mas uma opção.

"De fato, na última década, temos observado um aumento dos estudos sobre juventude rural com foco na permanência desses sujeitos no campo. Isso está relacionado com transformações pelas quais o rural passou nas últimas décadas. Nesse sentido, a Efa é uma escola que vai ao encontro dos agricultores e não o contrário. Instala-se no rural e baseia toda sua pedagogia nas experiências e conhecimentos produzidos desde aquele espaço", diz Leonardo Rauta.

Mas não é só. Além de contribuir para modificar o cenário no meio rural na questão educacional e identitária, as Efas possuem uma forte ligação sustentável com o meio ambiente. "A opção pela agroecologia é, nesse sentido, uma escolha política, um ideal que a Efa-O a todo momento tenta incutir em seus alunos, não só na teoria como também na prática. Toda a produção agrícola da escola é realizada sem o uso de agrotóxicos, uma parte dela em agrofloresta. A escola também adota a diversificação de culturas e o plantio de culturas temporárias como forma de produção sustentável", conta o sociólogo.

Modelo veio da França rural

No Brasil, a Escola Família Agrícola chegou em 1969. É um modelo espelhado na experiência das Maisons Familiales Rurales, que foram escolas criadas com o propósito receber jovens do meio rural na França da década de 1930 — já que maioria vinda de famílias de agricultores não se sentia contemplada pelos modelos mais tradicionais de ensino ofertados nos centros urbanos.

No mesmo ano de criação da Efa-O, outras unidades também surgiram. Todas na região rural do Espírito Santo. À época, o Estado vivia um crescente êxodo rural em decorrência do empobrecimento das famílias que ali residiam. No início daquela década, em 1961, o governo federal havia dado início ao Gerca (Grupo Exclusivo da Recuperação Econômica da Cafeicultura), que tinha o propósito de erradicar cafezais pelo Brasil, já que o país contava com uma produção excedente. O Espírito Santo tinha o café como sua principal fonte de rende e 71% de sua área total destinada ao cultivo do fruto. Ao final de 1967, quase 54% dessa área seria erradicada.

Um padre jesuíta italiano, de nome Humberto Pietrogrande, ao visitar a região de Anchieta "impressionou-se negativamente com a situação socioeconômica dos agricultores de base familiar capixabas", nas palavras do sociólogo Leonardo Rauta. Mais do que isso: impressionou-se com a vergonha dos locais em terem origem rural.

"No caso das Maisons, os agricultores integrantes de um sindicato demandaram ao padre de sua paróquia o auxílio na construção de uma solução para escolarização de seus filhos. No caso das Efas ocorreu o inverso, os padres, a partir de sua percepção sobre a realidade local, foram ao encontro de agricultores para propor a construção de uma iniciativa educativa para os filhos destes," como relata Leonardo em seu estudo.

Assim, começam os esforços do padre juntamente com agricultores da região para trazer o modelo de Escola Família Agrícola para o Brasil. No final da década de 1960, com a criação da Associação de Amigos do Estado do Espírito Santo, responsável por levar 12 pessoas de Anchieta para aprender sobre o modelo de escola rural na Europa, padre Humberto passa a idealizar a criação do Mepes (Movimento de Educação Promocional do Espírito Santo), que até hoje é responsável pelas Efas no Brasil.

Em discurso durante a inauguração do Mepes, em 1968, o sacerdote explicitava o que tinha em mente para a Escola Família Agrícola no país:

Vivemos num mundo em contradição. De um lado encontramos homens empenhados na conquista do espaço e do outro, milhões, talvez bilhões, de seres humanos que vivem em condições indignas de seres humanos. Vivem subalimentados, material e espiritualmente, sem capacidades e sem possibilidades de desenvolver todas as capacidades que têm. Vivem à margem da sociedade, explorados, humilhados, esquecidos da própria sociedade. Vivem na dor e nos sofrimentos mais agudos. Não tem comida, não tem estudo, não tem trabalho. Às vezes, nem parecem seres humanos. Nós queremos despertar a consciência dos homens das nossas comunidades sobre o valor da pessoa humana. O homem vale porque é 'pessoa'. Também o analfabeto, a criança, o velho são pessoas, seres humanos, que tem uma dignidade superior a todas as outras criaturas. São capazes de falar e de entrar num diálogo de amor com os demais.

Padre Humberto Pietrogrande, em 1968

Formação de profissionais

De fato, o que o padre Humberto vislumbrou como propósito da Escola Família Agrícola tem se materializado ao longo dos anos. "Na última década, temos observado um aumento dos estudos sobre juventude rural com foco na permanência desses sujeitos no campo", afirma Leonardo Rauta. Em sua visão, as Efas contribuem para a mudança de comportamento do jovem no campo, especialmente atuando no fortalecimento da identidade rural de forma positiva, porque atuam em duas frentes.

"A primeira, no plano da cultura, ao colaborar para uma narrativa contra-hegemônica de valorização do espaço rural e de sua gente, ajudando a romper com velhos estigmas que historicamente marcaram o campo e seus habitantes: o jeca, o atrasado. E a segunda, decorrente do seu trabalho pedagógico, foi a garantia de uma formação técnica apropriada para os contextos de agricultura familiar nos quais as escolas se inserem, fornecendo ferramentas para o desenvolvimento de pequenos negócios, a organização da produção, o acesso a mercado", afirma.

Ou seja, as Efas funcionam como um dispositivo que cria ferramentas que possibilitam o jovem enxergar que existem possibilidades para eles no meio rural. Não estão interessadas em formar pessoas que mais tarde serão mão de obra para terceiros, mas sim em capacitá-los para no futuro serem eles próprios agricultores. Para isso, como descreve o sociólogo, essas escolas costumam investir em demonstrar a capacidade de desenvolvimento econômico das regiões rurais por meio de visitas de estudo, estágios e intercâmbios.

"Desta forma, promove não apenas o crescimento humanizado com prisma sócio, político ambiental, cultural e econômico do jovem educando, como também de sua família e em consequência da comunidade", diz o diretor.

Potencial para chegar a mais rincões

De acordo com a UNEFAB (União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil), hoje o país possui 478 unidades. Se espalharam para outras regiões quando estudantes de fora do Espírito Santo começaram a frequentar principalmente a Efa Olivânia e depois voltaram para suas cidades de origem, onde, em alguns casos, passaram a articular a entrada do modelo.

Atualmente, o Nordeste é a região com maior quantidade delas. Ex-estudante de uma dessas unidades, a de Capinzal, no norte do Maranhão, Betsaida de Sousa Moreira, 32, hoje é agricultora familiar e extrativista de coco babaçu. Ela é um dos casos de alunos que decidiram continuar no campo — hoje, ela cursa licenciatura em Educação Rural na Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

"Temos muito orgulho de nossas raízes, de nossas lutas e agradecemos a todas e todos que nos valorizam, que valorizam o campo como espaço de vida e vida digna. Ter passado por todo este processo me faz ter muitas responsabilidades e lutar dia após dia para que outras e outros tenham também estas oportunidades", conta. Assim, a filha Isabel, hoje com 15 anos, está seguindo os passos da mãe: é estudante na Escola Família Agrícola Manoel Monteiro, no município de Lago do Junco (MA).

Segundo relatório divulgado pela ActionAid Brasil, uma das apoiadoras do modelo de educação contextualizada no campo juntamente com a Assema, os alunos dessas instituições nordestinas "aprendem o currículo tradicional acrescido de técnicas sustentáveis de plantio, cultivo e criação, seguindo os princípios agroecológicos. Os estudantes do nono ano manejam a criação de peixes. Também aprendem e praticam plantios de mudas de árvores, processamento de polpas de frutas, adubação e controle natural de pragas nas hortas, análise e escolha de espécies mais adaptadas para plantio, combinação de culturas adequadas à convivência com as árvores de forma a evitar desmatamentos ou queimadas, técnicas de cobertura do solo com folhas secas de bananeiras para evitar ressecamento causado pela excessiva luz solar."

Apesar de algumas Efas, como no caso da Efa Olivânia estar construindo um caminho para se tornar autossuficiente economicamente, hoje o sustento dessas escolas dependem de parcerias, dos investimentos do município ou Estado e das contribuições das famílias dos estudantes.

As dificuldades financeiras são frequentes, principalmente pela falta de repasse do governo. Em 2018, Efas de Minas Gerais, por exemplo, vieram a público alegando que só tinham recebido metade do dinheiro do Estado para continuar o projeto, o que acarretou em demissões dos profissionais como forma de cortar despesas. Em 1997, como retratado pelo sociólogo Leonardo Rauta, a própria Efa Olivânia precisou plantar 12 mil pés de café para conseguir se manter e pagar o salário dos professores.

"As Efas são, nesse país, sobreviventes. Assim como os agricultores familiares, a quem servem, são caracterizados pela resiliência e pela esperança. Essas são duas virtudes mais que fundamentais nos dias de hoje," diz o sociólogo.

Para ele, os caminhos necessários de serem traçados para dar continuidade e até mesmo conseguir expandir o modelo para mais espaços rurais são dois: garantir o financiamento das instituições de ensino e promover maior diversificação dos cursos ofertados, como nas Maisons Familiales Rurales, da França, que possuem mais de 200 tipos de formação. "Mas é preciso vontade política para que essas duas coisas aconteçam", completa.

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