O estilista Gustavo Silvestre ficou muito impressionado com o crochê e como a atividade lhe dava autonomia. "Com uma agulha e um fio, a pessoa pode fazer qualquer coisa", diz o artista. Bolsas, blusas, calças, colchas, ponchos, tops, capa de almofada, chapéus. Não há limites para o que o crochê pode criar, pensava.
O horizonte do trabalho de Gustavo ganhou nova expansão em 2015, quando recebeu um convite para ensinar detentos da Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos (SP), a crochetar. Nos encontros semanais, o estilista ensina a técnica, mas também bate-papo com eles. Cada turma de Gustavo tem 16 alunos e, desde a criação do projeto, 120 pessoas já foram atendidas pelo Ponto Firme. Virou uma terapia.
Quando um dos primeiros alunos do estilista foi liberto, em 2018, ele o procurou porque queria continuar a fazer crochê. "Percebi que tínhamos que ter um desenvolvimento para os egressos. A gente capacitava, iniciava, precisávamos continuar esse trabalho. Fui pensando em produtos, como poderíamos utilizar o trabalho desses meninos para gerar uma renda para eles." Foi assim que surgiu a ideia da marca de roupas que, há quatro anos, desfila no São Paulo Fashion Week, principal semana de moda brasileira.
O Projeto Ponto Firme continua o trabalho dentro da penitenciária, mas, fora dela, tornou-se uma espécie de cooperativa de crocheteiros formada por egressos do sistema. "Recebemos as encomendas e passamos os projetos para quem estiver disponível." A marca, que tem apoio de uma fabricante de linhas, conta com quatro artesãos fixos e já teve 20 egressos entre seus colaboradores.