Dá para perceber a animação da Natalina dos Santos de longe. Ela chega sorrindo, com um turbante vermelho combinando com a blusa. Natalina podia ter esperado em casa pelos alimentos entregues à população da pequena cidade localizada no sertão do Rio São Francisco.
Por ela morar em uma comunidade ribeirinha, distante do centro de Pilão Arcado (BA), os alimentos do PAA são enviados pela prefeitura até sua casa. Mas como Natalina estava ansiosa, acabou encontrando os funcionários da prefeitura na casa da vizinha. ''Eu moro ali, minha filha, naquele barraquinho, você bota aí que moro sozinha, só eu e Deus'', diz Natalina.
PAA é a sigla para Programa de Aquisição de Alimentos, um programa criado em 2003, no qual o governo compra alimentos de agricultura familiar local e os entrega às pessoas em situação de insegurança alimentar.
Faltam poucos meses para Natalina completar 64 anos, mas ela está esperando mesmo os 65, quando vai começar a receber a aposentadoria. Com 16 anos, ela se mudou para São Paulo (SP) em busca de emprego. Foi cozinheira, catadora de materiais recicláveis e faxineira. Há dez anos voltou para Pilão Arcado. ''Eu não consigo trabalhar mais lá, nem aqui. Aqui é pior porque o sol é quente demais, é roça. Mas eu tô aqui porque eu sou filha daqui, voltei pra minha terra''.
Em sua cidade natal, Natalina consegue criar galinha, bode e plantar sua comida no quintal de casa, mas o trabalho está ficando cada vez mais difícil. ''É muito cansativo, tenho problema de pressão alta, refluxo, meus joelhos são inchadinhos'', lista ela. E nem sempre dá para plantar. ''Agora não tem como plantar porque o rio está cheio. Estou catando reciclagem. Eu compro o óleo, compro o feijão, mas não é sempre que tem. Muitas coisas a gente não tem aqui, mas a gente tem o peixe que Deus deixou''.