Para onde vai SP

Vozes de 7 áreas apontam possíveis rumos para uma cidade que se transforma há 466 anos

Bárbara Forte e Paula Rodrigues De Ecoa, em São Paulo Arte/UOL

Talvez você já tenha ouvido falar da São Paulo onde o último trem sai às onze. Ou do encontro que acontece entre as avenidas Ipiranga e São João. Talvez tenha até escutado que não existe amor em SP. Você pode acreditar que a capital é uma selva de pedra. E é. Por isso, talvez fique chocado ao descobrir que áreas verdes remanescentes de Mata Atlântica cobrem 30% da cidade.

São Paulo tem mais de 12 milhões de habitantes, segundo estimativa de 2019 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Um lugar que tem acolhimento, mas mantém muros invisíveis. Que construiu uma diversidade, mas é marcada por desigualdades. Que é cheia de potência e está em permanente transformação.

No aniversário de 466 anos de São Paulo, o médico Drauzio Varella, as deputadas Erica Malunguinho e Mônica Seixas, a ativista ambiental Amanda Costa, os jornalistas Leonardo Sakamoto e Mariana Belmont, o educador Rodrigo Ratier e cantora Linn da Quebrada compartilham as visões que têm sobre a capital paulista e apontam possíveis rumos para educação, saúde, gestão pública, meio ambiente, aquecimento global, diversidade, cultura e luta contra a desigualdade na metrópole.

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Saúde

Drauzio Varella, médico, cientista e escritor

"Eu tinha sete anos quando tive uma nefrite, uma inflamação nos rins, e precisei ir ao hospital. Minha mãe já era falecida, então meu pai me levou. Na volta, a molecada do Brás, bairro onde eu nasci e morei até os meus dez anos, parou de jogar bola na hora. Eles vieram correndo para perguntar se era verdade que os médicos davam injeções enormes nas crianças.

O que isso tudo quer dizer? Eu nunca havia ido ao médico até os meus sete anos de idade. Minha irmã mais velha e meu irmão mais novo também não. E nenhuma daquelas crianças que viviam ali, a cerca de 30 minutos a pé da Praça da Sé, marco zero da cidade de São Paulo.

Isso tudo aconteceu em 1950, numa época em que 70% da população vivia no campo. Se a gente não dava pediatra para as crianças que moravam ali coladas na região central, imagina o que era assistência médica em outras regiões do Brasil.

Hoje você não encontra uma criança no país - em São Paulo, de jeito nenhum - que não tenha algum acesso ao pediatra. A mudança aconteceu, sobretudo, por conta da criação do SUS (Sistema Único de Saúde), em 1988.

Quando você pensa na saúde pública, que tem uma série de problemas (aqui em São Paulo muito menos, é claro, embora tenha muitos), e as pessoas reclamam, não se recordam de como era antes. Pensa comigo: naquela época o Brasil tinha 50 milhões de habitantes e não conseguia dar pediatra, nem vacina, nem nada para as crianças que moravam no centro de São Paulo, a cidade que mais crescia na América Latina.

Eu sou um otimista

São Paulo, no fim dos anos 1960, chegou a ganhar 300 mil habitantes por ano. Quando Campinas tinha 300 mil. Juntava uma Campinas a cada ano na capital, porque aqui era a cidade onde tinha emprego, oportunidade. Vieram pessoas de todos os lados (interior, do Nordeste, Norte, Sul, de todo o lugar). Eu acho que a população não vai crescer como naquela época, vai crescer mais devagar. Eu sou otimista.

Temos, hoje, um sistema de saúde pública razoavelmente organizado. Lógico que podia ser muito melhor, mas é razoavelmente organizado. Você tem bons hospitais públicos em São Paulo, distribuídos pela cidade, em vários pontos da cidade.

A parcerias público-privadas aqui em São Paulo tiveram bom resultado. Você pega, por exemplo, o Hospital Santa Marcelina, que fica em Itaquera. É uma organização filantrópica, com freiras da congregação. Mas você entra lá e pensa que está num hospital privado. E tem vários outros como este. Mas é lógico que a demanda é absurda.

Um dos desafios é reduzir a desigualdade que ninguém considera quando discute a questão da saúde. Vou dar um exemplo: a região de Moema tem apenas 5% de negros. Os outros 95% são de pessoas brancas. A expectativa de vida de quem nasce em Moema é de 80 anos, perto da expectativa de vida do Japão. Agora você pega, por exemplo, Marsilac e Parelheiros, no extremo da zona sul, ou Cidade Tiradentes, na zona leste: a expectativa de vida é de 57, 58 anos.

Drauzio Varella, médico oncologista, cientista e escritor brasileiro

Falta renda. São pessoas muito pobres, negros em grande parte. No Jardim Ângela, por exemplo, 60% da população é negra. Falta acesso e a vida que eles levam não é saudável. Faltam espaços para fazer exercícios. Eles levam uma vida dura, com deslocamentos de grandes distâncias. Ir e voltar ao trabalho toma duas, três, quatro horas do dia. E aí você fala para eles fazerem exercício? Como?

A saúde precisa ir atrás das pessoas antes que elas adoeçam porque sai muito mais barato. Eu acho que a saúde mais erra em investir na doença e menos na saúde. Ao praticar a medicina curativa, você espera a pessoa ficar doente e depois você cuida dela. Nós temos que ter um foco muito mais forte do que nós temos hoje à atenção básica."

Se a gente tivesse um esquema em que atenção básica funcionasse bem, sabe quantos por cento dos problemas nós resolveríamos? Aproximadamente 90%. E não sou eu que estou dizendo isso, há muitos estudos que avaliam que até 92% dos problemas de saúde poderiam ser evitados com prevenção.

Drauzio Varella, médico oncologista, cientista e escritor brasileiro

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Gestão Pública

Erica Malunguinho, deputada estadual de São Paulo

"São Paulo foi uma escolha pra mim. Vim de Recife, e aprendi a viver nela e com ela. Apesar das violências constantes, rompi suas artérias para me fazer presente. Para mim, tem uma história de fluxos migratórios e imigratórios que confirmam o anseio da grande cidade que é e justificam a ideia de diversidade.

Diversidade que considero consequência da concentração material e não o propósito da cidade. Ao fim de tudo, é essa consequência que faz o brilho da cidade acontecer. Vivi para ver o "oxente" ser incorporado na língua da paulicéia.

É a própria contradição do que essa cidade poderia vir a ser. Uma cidade que esquece suas populações periféricas — ao mesmo tempo sua maior fragilidade e o que tem de mais importante. São as periferias que fazem tudo acontecer. São os braços dessa gente empobrecida que movimenta tudo. São Paulo ainda é uma cidade que não olha para isso, para a crescente vulnerabilidade, para o crescimento da população em situação de rua, para a habitação, para o déficit de vagas em creches, para um transporte caro, para as enchentes... Todos problemas históricos e tristemente previsíveis.

São Paulo tende a permanecer um purgatório com rubrica de metrópole. Daí vão me dizer: 'Ah, mas isso é um problemas de todas as cidades brasileiras.' Eu respondo: mas nenhuma cidade brasileira se propõe a ser o suprassumo da artéria urbanóide latina. Nem tem orçamento, tampouco a especificidade de seu capital humano.

A perspectiva de futuro que tenho é uma tomada de consciência coletiva. É fundamental ter gentes que representem projetos políticos que estejam comprometidos com o rompimento das desigualdades que são fruto das violências históricas, logo estruturais.

Erica Malunguinho, deputada estadual de São Paulo

A gestão pública deve usar o tempo e energia política para agregar, ouvir, dialogar e elaborar planos estratégicos que vão ao encontro das necessidades das populações vulnerabilizadas: pretos e pretas, indígenas, pobres, LGBTs, povo de terreiro, população em situação rua, profissionais do sexo, usuários de drogas... Óbvio que isso não pode se dar de forma terceirizada. É imprescindível participação.

Não é possível que sejamos apenas destinatárias das políticas públicas, mas também as escreventes. Por uma questão de representatividade obviamente associada à luta e à consciência histórica desta condição, e também por sermos mais hábeis, capazes e acima de tudo sensíveis para olhar e transcorrer sobre as violências estruturais."

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Gestão Pública

Mônica Seixas, deputada estadual de São Paulo

"Em 2011, eu saí de Mogi das Cruzes e vim para São Paulo fazer faculdade de jornalismo. Durante muito tempo, um dos meus principais medos de morar na capital era perder o contato com uma das pautas que defendo desde que comecei no ativismo político, aos 13 anos: a questão ambiental. Me surpreendi ao descobrir que as periferias estão cheias de hortas, cachoeiras ou até mesmo aldeia indígena. Descobri uma São Paulo de várias caras e cores.

Mas, no cenário político, me deparei com uma grande quantidade de privatizações, de ataque aos servidores, de ataques aos direitos públicos e humanos. Nos últimos anos, vimos um excessivo aumento da tarifa do transporte público que vai contra o direito que as pessoas têm de ter acesso à essa cidade. Já vivemos e, provavelmente, viveremos de novo uma crise hídrica.

O futuro da política na cidade é participativo e plural. Se tem uma coisa que a direita e a esquerda entenderam é que a política é das pessoas cotidianas. O político não é um ser onipresente e onipotente que tem a resposta para todos os problemas, mas tem que ter a disposição de conhecer todos os problemas e juntar uma equipe para formular soluções para as mais diversas realidades.

Mônica Seixas, deputada estadual da Bancada Ativista em São Paulo

Na formulação e distribuição do orçamento da cidade, por exemplo, eu assisto ano após ano movimentos de cultura e saúde muito bem organizados para tentar ajudar a pensar em distribuição de verba para as áreas, mas nem sempre eles são ouvidos. O problema é que o poder público não está absorvendo tudo isso, ouvindo de verdade para, depois, apontar resoluções técnicas para as ideias apresentadas pela população."

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Desigualdades

Leonardo Sakamoto, jornalista e ativista de direitos humanos

"Passei maior parte da minha vida aqui em São Paulo. Sou apaixonado pela cidade, talvez por isso eu seja tão crítico a ela. Quero que ela dê certo. Eu fui criado no Campo Limpo, bairro do extremo sul, e sempre cruzei a cidade de ônibus para visitar amigos em outras regiões. Aprendi muito sobre a cidade assim e, depois, passei a estudá-la academicamente.

Assim descobri que, lá nos primórdios, a cidade foi cercada por um muro de taipa — um jeito de proteger contra ataques. Depois de um tempo, o muro caiu, mas o conceito de exclusão representada por ele se mantém até hoje. São Paulo ainda é uma cidade murada que deixa parte de seus habitantes de fora da efetivação de seus direitos. É um lugar em que parte da população tem direitos e a outra parte tem deveres.

Leonardo Sakamoto, jornalista e ativista dos direitos humanos

Toda e qualquer evolução conquistada para reduzir um pouco a altura desse muro invisível de exclusão não se deu pelo poder público, mas graças ao cidadãos dessa metrópole que suaram e deram as vidas para conseguir melhorar esse cenário. E essa é a maravilha de SP: as pessoas.

Quando falam sobre a história da cidade, contam sobre a colonização, do café, das igrejas, contam sobre as escolas de direito, as artes, desenvolvimento? Mas é muito raro contarem sobre as histórias das lutas, das greves, as resistências negra e indígena, dos pobres, dos migrantes... Todos que construíram a cidade.

Nós vivemos de uma maneira geral um momento complicado, não só no Brasil como no mundo inteiro, que é a ressurgência de movimentos ultraconservadores. E isso cria um caldo para criminalizar movimento e ações sociais que buscam a efetivação de direitos. Mas, historicamente, você só tem uma vida segura, um emprego, educação e saúde de qualidade, se tiver direitos humanos assegurados. Caso contrário, você só tem migalhas.

São Paulo só é uma cidade plural por causa da luta de mulheres, de negros, do movimento LGBTQI+, dos sem teto e dos sindicatos. Agora, o Estado brasileiro em seus três níveis operando em São Paulo, possui políticas públicas muito escassas para combater as desigualdades.

Leonardo Sakamoto,  jornalista e ativista dos direitos humanos

No âmbito estadual, temos que melhorar urgentemente a questão da segurança pública, porque temos uma polícia que protege os cartões postais da cidade enquanto trata de maneira cruel a periferia. Já no municipal, é preciso repensar a estrutura da cidade — é preciso incentivar a criação de mais polos culturais e de geração de empregos, por exemplo, em regiões fora do considerado centro, para que as pessoas não precisem gastar horas e horas diárias só com deslocamento.

Eu acho que existe uma busca por melhorias na cidade, por reais resultados no combate às desigualdades. E essa busca é e ainda será conduzida pela transformação da cidade em um lugar mais humano e viável para todos, proposta por grupos de defesa de direitos humanos, como vimos acontecer em outros momentos da história."

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Educação

Rodrigo Ratier, colunista de Ecoa, jornalista e professor

"Eu acho que a cidade de São Paulo, quando a gente fala de educação, tem um potencial enorme. O equipamento cultural, caso esteja a serviço da educação, é, sem dúvida, o mais rico do Brasil.

São Paulo é uma cidade em que os lugares não são apenas lugares de passagem. Eu acho que ainda falta inserir a educação nesses lugares que têm vida, como praças, naturalmente. Porque a gente não pode pensar, por exemplo, em palestras rápidas, minicursos, compartilhamentos de experiências, pequenos debates, para as pessoas poderem debater?

A Rede Nossa São Paulo mostrou que existem vários distritos de São Paulo que são um deserto cultural. Seria importante, então, trabalhar para zerar esse número de desertos culturais. Eu tenho muita esperança quanto à educação em São Paulo, sobretudo nessa perspectiva de cidade educadora.

Antes de mais nada, porém, é preciso lembrar do que falta e nenhum prefeito até agora conseguiu resolver: a fila das creches. É um problema crônico da capital. Vai precisar de dinheiro, não tem mágica nesse sentido. O ideal é que isso seja feito com qualidade.

Rodrigo Ratier, colunista de educação de Ecoa, jornalista e professor universitário

Não apenas abrindo vagas, mas não recorrendo a outras soluções, como como as escolas conveniadas. Em geral, as conveniadas são de nível muito inferior, tanto em termos de corpo docente, quanto em termos de estrutura física e pedagógica.

Um encanto

E onde a cidade mais erra? Eu acho que a gente ainda não dá o valor que a cidade tem. Talvez falte um pouco que a gente olhe com olhares estrangeiros. Eu fiquei muito impactado com amigos que eu recebi em casa com uma visão carinhosa com a nossa cidade."

A gente acha que pelo fato de São Paulo não ser uma cidade turística, por ser feia em alguns sentidos, que ela não é uma cidade que encanta. Ela encanta, sim. Eu acho que falta a gente ter esse encantamento, de um jeito engajado, que ajude a produzir melhorias.

Rodrigo Ratier, colunista de educação de Ecoa, jornalista e professor universitário

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Meio Ambiente

Mariana Belmont, colunista de Ecoa e jornalista

"A maior parte da minha vida aconteceu dentro de um pedaço da Mata Atlântica, em Parelheiros, no extremo sul da cidade. Isso me fez olhar para São Paulo de um jeito diferente. Este é um município, de fato, muito cinza, mas que também possui uma área verde significativa, que precisa ser valorizada.

A pauta ambiental nunca foi priorizada pelo poder público, mas piorou nos últimos anos. Não tivemos manutenção de parques, uma boa gestão e orçamento para unidade de conservação, nem fiscalização de desmatamento do pedaço de Mata Atlântica dentro da cidade.

Os pontos positivos nessa área, com certeza, vêm da agricultura familiar e orgânica da zona sul e em partes da zona leste, que ganhou força - aumentou o número de produtores e a possibilidade de viver disso. Também tivemos a positiva abertura de parques naturais nessas regiões.

São Paulo precisa começar a cobrar pelo desenvolvimento de serviços ambientais, fundamentais para contribuir com a preservação de ecossistemas. Precisamos começar a priorizar outras formas de locomoção pela cidade, para acabar com essa dependência de carros, que são grandes poluidores. As próximas gestões precisam começar a discutir meio ambiente como um recorte transversal de todas as pautas."

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Aquecimento Global

Amanda Costa, ativista ambiental na ONG Engajamundo

"A cidade de São Paulo está 3ºC mais quente, o dobro do aumento máximo da temperatura estipulado pela UNFCCC [sigla em inglês para a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima], de 1,5ºC. E já sentimos as consequências: o aumento da intensidade de chuvas e mais regiões alagadas em uma região, enquanto outras passam por um aumento do período de seca.

A escassez de água é um ponto de alerta também. Apesar de contar com mais de 200 rios, São Paulo tem grandes chances de enfrentar outra crise hídrica, como a de 2014 até 2016.

Com isso, a tendência é que as comunidades mais vulneráveis sejam as mais prejudicadas. É o povo pobre, preto e periférico, aqueles que estão 'à margem' da sociedade, que serão os mais impactados pelas catástrofes naturais resultantes do crise climática. A questão de moradias em áreas irregulares, enchente, desmoronamento, desmatamento, falta de água e saneamento básico está diretamente ligada com o aquecimento global, mas por vezes, esse conhecimento não chega aos principais impactados.

Por ser uma capital financeira, São Paulo conta com recursos (público e privado) para promover diversos eventos para pensar em soluções para o meio ambiente. Porém, o aquecimento global ainda é um tema muito elitizado. É necessário ampliar o debate, principalmente nas escolas públicas, nos coletivos e nas comunidades periféricas. Além do mais, é imprescindível que as autoridades políticas se apropriem do tema e criem políticas públicas para lidar com o problema.

Amanda Costa, fundadora do Perifa Sustentável e ativista ambiental na ONG Engajamundo

É furando as bolhas, democratizando o discurso, acessibilizando o conhecimento, promovendo ações que contemplem as populações periféricas que um ambiente propício para soluções inovadoras será criado. É por meio da conexão entre centro e periferias, conhecimento tradicional e sabedoria ancestral, que ampliaremos nossas possibilidades de frear a crise climática."

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Diversidade e Cultura

Linn da Quebrada, cantora e atriz

"Minha relação com São Paulo é de muito amor e muita raiva. Raiva diante de todas as violências e prioridades. Amor por perceber como tem muitas possibilidades que se abrem e se fazem possíveis na cidade. Por isso, existem muitas São Paulo.

A produção cultural dentro das periferias são muito diferentes, inclusive de uma quebrada para a outra. Temos uma diversidade de corpos múltiplos e variáveis, com experiências singulares. Corpos gordos, pretos, milhares de mulheridades, travestilidades? E todos eles estão circulando. Mas, ainda assim, há uma precariedade em entender o que esses corpos produzem.

São Paulo teve que olhar para isso porque esses corpos têm pressionado o sistema para que os notem. Para que perceba que estamos existindo, consumindo e produzindo cultura. Isso me impulsiona a agir cada vez mais no presente, a estabelecer a minha rede com essas pessoas, e olhar para diversidade de fato.

Nós temos que caminhar para um lugar não só de empatia, mas de ação. Temos que nos entender como agentes dentro da cidade para que possamos atuar na construção de caminhos para impulsionar a diversidade.

Nós temos que olhar para além do nosso umbigo, e ver que tem muitas outras pessoas que não são abarcadas por nossos privilégios, e que essas pessoas têm direito a ter acesso às produções dentro da cidade. São Paulo precisa entender que não é o centro de tudo."

São Paulo Precisa entender que a cidade só acontece dessa forma por causa de uma rede de privilégio, e também por causa de pessoas do Brasil inteiro que vem pra cá e contribuem com força, mão de obra, com o pensamento e com seus corpos para fazer de São Paulo um polo cultural tão importante.

Linn da Quebrada, cantora, compositora e atriz

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