A seriedade do tema meio ambiente quase não dá espaço ao alívio cômico, marca do trabalho do ator, humorista e diretor Fábio Porchat. Falar sobre o assunto, afinal, é falar sobre a conjuntura política. Na conversa por vídeo com Ecoa no meio da semana, Porchat respira fundo, quase bufando, antes de comentar o momento atual, que vê loteado por negacionismo e anticientificismo. Para ele, o Brasil só vai ter algum avanço, inclusive na área ambiental, quando mudar o governo.
Enquanto isso, Porchat faz questão de usar sua voz em defesa da natureza. Este, aliás, será o tema de uma mesa de debates da qual participará no próximo sábado, ao lado do quadrinista Mauricio de Sousa, da liderança indígena Ailton Krenak, do músico Gilbero Gil e do DJ Eric Marky Terena, dentro da programação do festival digital Hora do Planeta, campanha global do WWF e que, por aqui, acontece em parceria com Ecoa.
Porchat lamenta a falta de engajamento dos brasileiros na questão ambiental, escanteada e tratada como "coisa de esquerda". Vê sinais de letargia em todo canto: do acúmulo de lixo nas praias, que deveria causar escândalo, à omissão nas discussões sobre preservação da Amazônia e aquecimento global. São assuntos que não estavam na sala de aula em seus tempos de escola, mas sobre os quais tem se debruçado com interesse. "Fui me interessando cada vez mais pelo planeta Terra. Entendendo como tudo está conectado."
Esse processo, para ele, passou por pequenas grandes mudanças na rotina, como apagar as pegadas de carbono após uma viagem, privilegiar os pequenos produtores de orgânicos e reduzir o consumo de carne.
O artista acredita que o humor pode, sim, ser aliado da luta. O desafio é personificar temas como a natureza e a destruição em um país tão acostumado ao absurdo — como o mocassim usado pelo ministro Ricardo Salles do Meio Ambiente em visita a praia contaminada por óleo. "É uma boa ideia pra criar alguma coisa para o Porta dos Fundos", diz o humorista, já projetando um novo encontro entre a sátira e o absurdo, a exemplo dos quadros dedicados a Franz Kafka e ao jornal Charlie Hebdo que decoram o quarto de onde deu a entrevista.