Ecoa: Qual é a importância de uma cidade amazônica ser escolhida para sediar o mais importante evento global sobre mudanças climáticas?
Fafá de Belém: É a oportunidade para sermos escutados. Fala-se muito de Amazônia, desde que me entendo por gente. Tratam a região com "preocupação", como se fosse uma questão a ser resolvida por estrangeiros. E quem são os estrangeiros? São as pessoas que não vivem lá.
Por mais que exista boa vontade, sem ouvir os povos originários, você não vai conseguir fazer nada de bom. Sem ouvir os ribeirinhos, não vai saber do que precisam. Sem ouvir os extrativistas, não vai entender o que é necessário para manter a floresta em pé. Então nós, povos dos estados amazônicos, queremos ser vistos e ouvidos.
Qual é a sua expectativa em relação à COP-30?
A Amazônia muitas vezes é vista apenas como uma curiosidade, algo exótico e folclórico. A COP vai ser o momento de nós voltarmos a ser olhados como uma cultura e uma sociedade.
Espero que a Amazônia seja um oxigênio cultural, estético e gastronômico para o Brasil e não uma Disneylândia. A COP e tudo o que está gerando em torno dela está trazendo um cruzamento de olhares que vai ser fundamental para nós.
De que forma o evento que você organiza, a Varanda de Nazaré, ajuda a divulgar essa cultura?
Quando há 13 anos comecei a fazer a Varanda de Nazaré durante o Círio de Nazaré, a maior procissão mariana do mundo, quis levar essa cultura a quem vem de fora. Mostrar a nossa culinária, a nossa fé e uma das maiores festas LGBTQIA+ do país, a Festa da Chiquita.
Agora, como preparação para a COP-30, estamos começando a promover debates, encontros e discussões com pesquisadores e jornalistas para criar um entendimento do que nós somos no mundo.
É um projeto mais do que nacional, é de visibilidade mundial de uma Amazônia plural e robusta. Quero mostrar como somos únicos e, ao mesmo tempo, universais", Fafá de Belém