Mais velho de oito irmãos e pai de oito filhos, além de tio de nove sobrinhos, Antônio Carlos Santos de Freitas, 59, tem uma família tão grande quanto o legado cultural construído ao longo dos 40 anos de carreira. Quando Carlinhos Brown se debruça a contar de onde vieram seus antepassados, a conversa não é menos extensa.
Engloba um figurão do Império do Brasil, confunde-se com as origens libertárias do bairro soteropolitano onde nasceu e foi criado, reverencia com a mesma ênfase origens africanas e europeias e deságua na surpresa de os filhos músicos produzirem canções tão distantes das dele. Todas essas histórias giram em torno da pergunta, até então sem resposta, que acompanhou o artista durante sua vida: "De onde eu vim?".
Antigamente, falar de ancestralidade, de raízes, parecia ser a evocação de um demônio, de um passado, das sombras que ninguém queria. Todo mundo vivia a pressão do presente, sem tocar no resquício escravocrata, o preconceito de cor sobre o outro.
Essas reflexões vieram após Carlinhos topar o convite de Ecoa para realizar um teste de DNA de ancestralidade genética que indicasse os lugares no mundo de onde vieram seus ancestrais. Mas ele não anda só. Três gerações da família Freitas embarcaram na experiência. Além dele, sua mãe, dona Madalena; seu pai, Renato Freitas e dois de seus filhos, Clara Buarque e Chico Brown. Tudo isso embalado com música e as habituais digressões do timbaleiro, que começam em um ponto e terminam para além de onde a vista alcança.
É bonito quando você vê que o DNA aponta de onde você tem mais influência. É lindo se reconhecer nessas posturas, mas, ao mesmo tempo, tem uma obviedade de que nós somos deste mundo e pertencemos a várias origens. A ancestralidade pode também transgredir para a espiritualidade. E o DNA é apenas esse reconhecimento de que você passa por forças e famílias mundiais que são importantes.
Carlinhos Brown