Antônio Baptista do Prado costumava moldar o barro na coxa até transformá-lo em telha. Fazia assim telhados em sua olaria no litoral sul de São Paulo, onde a família vive até hoje. Em algumas das peças guardadas pelos descendentes dele, é possível ler a data da confecção cravada com a letra fina de seu Antônio: dezembro de 1901. Além de uma lembrança guardada de um mais velho, a telha é para a família mais um registro da presença antiga e constante dos Prado em uma das regiões consideradas mais bem preservadas da Mata Atlântica.
"Aqui nasceu meu tetravô, meus bisavós, meus pais. Nossa geração de gente tem mais de trezentos anos. Minha bisavó, mãe de Bernardino, era morena, a vó preta, era da parte dos escravos. Eu e Onésio [seu marido] somos primos de terceiro grau. Tudo Prado!", como resumiu dona Nancy do Prado, em 2012, em uma entrevista a Carmem Lúcia Rodrigues, antropóloga que visitava o local para escrever sua tese de mestrado pela Unicamp (Universidade de Campinas).
Com ajuda de documentos da época, é possível dizer que há nove gerações os Prados vivem na região conhecida hoje como Juréia, que desde 1986 virou uma unidade de conservação.
"A gente não é rico, na verdade, temos outro tipo de riqueza. A gente quer a riqueza do conhecimento, da terra, da água, do bem viver, mas de muita luta também", define Dauro do Prado, filho de dona Nancy com seu Onésio, e um dos bisnetos de seu Antônio Baptista do Prado.