Até 2050, a demanda pela "comida azul" deve dobrar. Segundo dados da agência da ONU para Alimentação e Agricultura, a FAO, o consumo global de alimentos aquáticos, com exceção das algas, aumentou a uma taxa média anual de 3% desde 1961, enquanto a taxa de crescimento populacional foi de 1,6%.
Há um desafio iminente para as lideranças globais: alimentar as populações do presente e do futuro. Em 2022, o planeta alcançou a marca de 8 bilhões de habitantes - até 2050, a expectativa é que sejam quase 10 bilhões de pessoas na Terra. Em 2021, cerca de 828 milhões de pessoas passaram fome, um aumento de 46 milhões de indivíduos em comparação a 2020. Ao mesmo tempo, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas (ONU), até 40% da área terrestre do planeta está degradada. De acordo com o Banco Mundial, será necessário produzir cerca de 70% a mais de alimentos até 2050 para alimentar mais de 9 bilhões de indivíduos.
A maricultura é uma grande oportunidade econômica. Temos superalimentos no oceano, como as algas, que são a vedete do momento. Algumas espécies têm mais proteína do que carne animal. Paulo Horta, professor de Ecologia e Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
As algas entraram no radar do mercado brasileiro também por causa dos impactos da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que evidenciou a dependência do abastecimento de fertilizantes para o setor agrícola - cerca de 85% dos fertilizantes usados no Brasil em 2021 foram importados. Pioneiro na introdução da alga Kappaphycus alvarezii no Brasil, o biólogo marinho e CEO da Seaweed Consulting, Miguel Sepúlveda, mantém uma área de cultivo de algas em Ilha Grande, no Rio de Janeiro.
Versáteis, as algas são usadas no setor de alimentos, em cosméticos e como biofertilizantes. "Por ser um país agrícola, o Brasil ainda não descobriu o potencial que tem no mar para as macroalgas. O grande interesse ainda vai ser despertado, da mesma maneira como já existe em outros países", afirmou. De acordo com a FAO, o cultivo de algas representa cerca de 30% da produção da aquacultura mundial.
Na corrida contra o tempo para encontrar formas de remover CO2 da atmosfera, o cultivo de algas entrou na lista de atividades com potencial para o mercado de créditos de carbono. Estimativas indicam que os ecossistemas com plantas marinhas, como manguezais e macroalgas, podem capturar até 20 vezes mais carbono por hectare do que as florestas terrestres. O cenário é o pano de fundo para o chamado carbono azul, o mercado voltado especificamente para o desenvolvimento de oportunidades de sequestro de carbono em ecossistemas marinhos.
O entusiasmo pode reverberar na criação de empregos. Em 2020, ao redor do mundo, 58,5 milhões de pessoas estavam empregadas no setor primário de pesca e aquicultura. Nos empregos diretos, aproximadamente 21% eram mulheres, taxa que chega a 50% quando se considera os empregos de tempo integral em toda a cadeia de valor aquático, incluindo atividades pós-colheita. Ao incluir os dependentes de cada família, estima-se que cerca de 600 milhões de pessoas dependem do setor pesqueiro e da aquacultura para sobreviver.
Todavia, 35% dos estoques pesqueiros estão impactados pela sobrepesca, de acordo com dados da FAO. No caso do Brasil, o último boletim com dados sobre a pesca nacional foi publicado em 2011. Para o pesquisador da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) Felipe Matarazzo Suplicy, a maricultura é uma forma de oferecer outras oportunidades de trabalho para os pescadores que não têm mais os mesmos ganhos com a pesca.