O fazendeiro Ruivaldo Nery de Andrade mora em uma fazenda escondida no Pantanal. O lugar fica a mais de 4 horas do porto de Corumbá, em Mato Grosso do Sul. Até piloteiros experientes desconhecem o caminho, feito em um barco a motor pelo grande rio Paraguai, depois pelo estreito Paraguai-Mirim até as proximidades do rio Paiaguás. Para chegar lá, o piloto precisa da ajuda de um ribeirinho musculoso. Os músculos, saídos de uma regata azul, desatolam e empurram o barco nos trechos mais rasos. O ajudante diz conhecer a direção, mas ele se perde no caminho. Por mais duas horas, o barco perdido rodopia, atola, engasga. A área é alagada, plana e totalmente silenciosa. A água é cristalina e potável. Ele sabe que o destino está a poucos metros, mas pode levar horas para alcançá-lo. "Lá é enjoado de chegar", diz. Era a melhor maneira de assumir o constrangimento com o próprio erro, embora seja injusto culpá-lo. Não há placas e as estradas d´água desaparecem e reaparecem segundo as chuvas e o calor. A paisagem é repetitiva e uma direção errada leva a um labirinto d' água. A sensação da viagem é a de um sonho estranho, uma alucinação, até a rota ser encontrada pelo ribeirinho. O homem vai à proa e indica ao piloto uma saída entre os camalotes, como são chamados os vegetais que flutuam nas águas do Pantanal. O barco entra em um canal ainda mais estreito de mata densa. É por ali que mora seu Ruivaldo. Por muitos anos, o fazendeiro viveu assim, solitário, em uma espécie de ilha de água doce.