Uma câmera na mão

Modelo e ex-nadador, Felipe Martins ajuda xavantes e viaja Brasil com projetos ambientais

Fernanda Ezabella Colaboração para Ecoa, de Los Angeles (EUA) Carol Brenck/GoMartins

No último dia da sua viagem a Campinápolis, no interior do Mato Grosso, o modelo e ex-nadador profissional Felipe Martins recebeu em seu hotel a visita ilustre de três lideranças indígenas. Ele estava na cidade com uma equipe para ajudar a prefeitura a promover possíveis pontos turísticos da região, como a Caverna Sagrada e a Lagoa Encantada, ambas localizadas em territórios dos xavantes.

As três mulheres queriam ajuda para construir um pomar em São Gabriel, a 35 km da cidade. A aldeia é uma das 153 da região que abrigam cerca de 10 mil indígenas, a maior população do país de uma só etnia.

"Uma das nossas principais preocupações é a questão alimentar dentro do povo xavante por conta do grande número de diagnóstico de diabetes", disse a Ecoa uma das três lideranças, Samira Tsibodowapré Xavante, filha de um cacique que morreu de diabetes em 2018.

Samira conheceu Felipe quando ele e sua equipe da GoMartins, empresa de produção de conteúdo criada há sete anos, conferia o potencial turístico da região a convite da prefeitura de Campinápolis para produzir material visual

"Observei que ele é muito engajado nesses projetos sustentáveis e já tinha trabalhos voltados para a questão indígena. Ele tem visibilidade, contatos, parceiros. Achamos que poderia nos ajudar com o pomar", continuou Samira.

Felipe abraçou a missão e fez justamente isso: correu atrás de seus contatos.

Carol Brenck/GoMartins Carol Brenck/GoMartins

Quatro meses depois, estava de volta a Campinápolis para registrar e dar uma mão na gigantesca força-tarefa montada pela prefeitura da cidade, liderada por Sirlene Dias, há seis anos secretária municipal de Turismo e Meio Ambiente.

"Só mostrar as belezas dos lugares não nos satisfaz mais. Acabamos conhecendo muitas comunidades em dificuldades e com problemas ambientais", disse Felipe, paulista de 33 anos que foi nadador profissional por 15 anos e figurou entre os dez mais rápidos do mundo nos 50m borboleta. Ele fundou a GoMartins com seu irmão, Henrique Martins, ex-nadador olímpico.

"Passamos por um processo de amadurecimento da empresa e hoje nossa missão principal é conectar quem quer e pode ajudar com quem precisa de ajuda. E seguimos mostrando nas mídias sociais o que as pessoas não conhecem desse Brasilzão", continuou Felipe, que também trabalha como modelo para pagar as contas e já participou das semanas de moda de Nova York, São Paulo e Milão.

De volta a Campinápolis, a equipe deu de cara com um outdoor da prefeitura na estrada dando boas-vindas às belezas da região, justamente com as fotos produzidas pela GoMartins. Nessa segunda visita, a equipe também organizou workshops na aldeia de Samira sobre agrofloresta e redes sociais para promover o etnoturismo.

Carol Brenck/GoMartins Carol Brenck/GoMartins

Doação de milhares de mudas

O que era para ser apenas um pomar virou mais de meia dúzia, num projeto com 2.435 mudas de árvores frutíferas, incluindo açaí, caju e bananeira, plantadas em dez aldeias.

Mais da metade das mudas foi doada pelo próprio marido da secretária Sirlene. "Foi meu presente de Natal", brincou a secretária e bióloga, que teve ajuda de outros órgãos para levar tratores, caminhonetes, adubo e calcário para correção do solo.

"Uma ação desse tipo aqui eu nunca vi, e olha que nasci e cresci aqui", disse Sirlene. "A secretaria de Assuntos Indígenas fez toda a parte de arar a terra, limpar e preparar os locais escolhidos pelos caciques. Fizeram uma roça também além do pomar. Foi lindo de verdade ver que todo mundo queria a mesma coisa."

Para Samira, Sirlene e Felipe, a grande emoção do projeto foi trazer 40 alunos não indígenas de Campinápolis para ajudar no plantio. Os jovens também participaram de danças, lutas e visitaram as construções da aldeia.

"Sofremos muito preconceito e acredito que é falta de conhecimento. Essas ações ajudam. As crianças ficaram encantadas, nunca haviam pisado numa aldeia", disse Samira.

"A gente se interessou pela questão do turismo vendo o que outros povos indígenas fazem. Felipe nos falou sobre isso", continuou. "Queremos valorizar nossa cultura, e o etnoturismo pode ser uma forma de gerar renda. Mas precisamos entender melhor como funciona. É tudo novo para a gente."

Carol Brenck/GoMartins Carol Brenck/GoMartins
Carol Brenck/GoMartins Carol Brenck/GoMartins

Felipe e outros três colegas fotografaram e filmaram todos os dias de plantio, entrevistando participantes e também botando a mão na terra debaixo de muitas chuvas. Tudo foi sendo publicado em tempo real em centenas de vídeos online na sua conta pessoal e da GoMartins.

Desde que deixou as piscinas em 2016, Felipe passou a viajar com o irmão para fazer mergulhos. Os dois entraram para um programa voluntário da National Geographic para exploradores independentes e filmaram diversos parques marinhos, como Abrolhos, na Bahia, e Laje de Santos, em São Paulo. Logo expandiram para dezenas de outros locais de ecoturismo pelo Brasil, além de começar uma amizade com uma aldeia no Território Indígena do Xingu. Nascia assim a GoMartins para produzir conteúdo visual para essas regiões.

"Pelos mergulhos, vimos diversos problemas, um monte de plástico, coral quebrado em áreas turísticas. Decidimos tentar trazer um novo olhar, mostrar as belezas e as complicações também", explicou Felipe. "Viajamos muito nessa época, quebrei de grana. Mas foi ótimo para começar a empresa e conhecer pessoas pelo país. Aprendemos muito no processo."

Carol Brenck/GoMartins Carol Brenck/GoMartins

Legendas das fotos: Imagem aérea do território xavante onde aconteceu plantio de mudas para pomar; Felipe Martins recebe gravata tradicional do povo xavante na aldeia Ro'oredza'odzé; Samira Tsibodowapré Xavante na aldeia São Gabriel (MT); criança xavante durante plantio de mudas na aldeia São Gabriel; Ronaldo durante plantio na Aldeia Hu'uhi (MT); Felipe Martins após cerimônia xavante.

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