"Infelizmente o pobre não pode errar na escolha dele e quem decide seu curso não é seu coração, é sua necessidade de ganhar dinheiro", explica Thiago Théas, ou Véio, como ficou conhecido devido à sua arte. O recifense de 31 anos, há 6, passou de um jovem frustrado com a necessidade de trabalhar e estudar em uma área de que não gostava para um grafiteiro e empresário parceiro de marcas como a Rede Globo e a Red Bull.
O morador da periferia de Jaboatão, na região metropolitana de Recife (PE), chegou a ingressar em um curso técnico de eletrônica, mas percebeu que seu sonho era outro: "Eu estava na aula e o pessoal ficava 'esse aqui não é seu curso, você tá no curso errado', porque eu ficava desenhando o tempo todo", conta o grafiteiro.
Thiago "Véio", que nunca chegou a trabalhar com eletrônicos, acabou indo explorar a carreira de designer gráfico em uma loja de surfe de sua região. Para ele, não era o emprego ideal, mas algo que o aproximaria das artes plásticas.
Em um dia comum de trabalho, um conhecido pediu para que Thiago estilizasse uma prancha de surfe usando canetas permanentes. O artista não só fez o trabalho, como viralizou na internet por meio de um vídeo, que chegou até o perfil da Posca, marca das canetas utilizadas, tornando-se conhecido nas redes pelo seu talento. "Eu só era o designer de uma marca que decidiu fazer um desenho para um amigo, a única coisa que eu fiz [a mais] foi filmar", explica Thiago.
A partir daí surgiu o convite para aprender e praticar grafite. Para o ex-designer, a paixão pelo grafite veio de forma rápida e natural e por mais que ele entendesse a dificuldade de deslanchar nessa área, estando fora do eixo Rio-São Paulo, em pouco tempo Thiago já estava na rua grafitando. Até que surgiu a ideia de criar o personagem "Véio", acompanhado de frases motivacionais nas suas artes.
Segundo Véio, sua intenção nunca foi viralizar ou sair na mídia, ele pensava o quão gratificante seria se algumas de suas frases como "Hoje vai ser massa" ou "Não fale mal do seu irmão" tocasse o dia de alguém. Thiago só não esperava que isso ajudasse jovens a enfrentarem momentos difíceis de suas vidas, como podemos ver em mais uma mensagem recebida por ele: "Eu tenho 13 anos, moro em Curitiba e eu tenho depressão. Costumo ficar me cortando e sempre que sinto vontade de me cortar, agora, entro no seu Instagram e vejo suas frases", diz um dos textos recebidos por ele.
Depois de um tempo, Véio passou a perceber que, em alguns momentos, com 5 ou 10 dias de trabalho com o grafite, ele ganhava mais dinheiro do que em um mês de trabalho na empresa em que era designer e, assim, depois de 7 anos de emprego formal, decidiu que era a hora de viver da arte: "Hoje, o xampu, o detergente, o aluguel da casa, o carro, tudo é pago através de arte", explica Thiago que conta com mais de 25 mil seguidores em sua página profissional no Instagram.