Bisneta de Hemetério José dos Santos [1858-1939], primeiro professor negro do Colégio Militar do Rio de Janeiro e da tradicional escola carioca Pedro 2º, Heliana Hemetério aprendeu em casa a entrar por portas destinadas a não dar passagem a mulheres negras e lésbicas como ela.
O culto familiar à cultura também nasceu com o gramático e filólogo, que atuava contra a escravidão e o racismo no pós-abolição publicando artigos, contos e crônicas nos jornais da época. Mas continuou com a mãe professora e o pai funcionário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que garantiram à jovem criada no bairro da Tijuca, zona norte do Rio, uma infância rodeada da "intelectualidade negra".
Cresci em uma família que não tinha dinheiro, mas que sempre privilegiou a cultura e os livros
Com tudo para ser ativista desde cedo, Heliana só abraçou a militância após contrariar o pai, perseguido pela ditadura. Depois disso, abriu muitas portas para a mulher virar elemento crucial nas discussões e decisões raciais e teve de esmurrar tantas outras para o debate passar a incluir a comunidade LGBTQIA+. Hoje, a missão continua, mas ganhou um adendo: ensinar as jovens que precisam abrir e, às vezes, chutar as portas certas.