São Paulo é uma das megalópoles mundiais, mas em suas bordas o passado rural reaparece. E, nas fendas de tanto concreto, seu solo fértil mostra que pode ser verde e produtivo. Há centenas de exemplos de hortas nas periferias, transformando o que antes era terreno baldio em área de agricultura urbana.
Tem cultivo embaixo dos fios de alta tensão. Tem plantação nas lajes para aproveitar o sol que não entra nos becos. Tem horta didática ao redor de escola para ensinar a importância de uma alimentação saudável. Tem canteiro de praça que ganhou plantas alimentícias. Tem cooperativas que colhem orgânicos para abastecer mercados, feiras e restaurantes.
"Nessa área era só lixo, de carcaça de carro roubado até desova de cadáver. Depois, a Sabesp pagava seguranças particulares para cuidar. A gente falou para usar a terra para plantar aqui. A empresa economizou esse dinheiro, e nós ganhamos um espaço de produção", resume Maria de Lourdes Andrade de Souza, ou simplesmente Lia, liderança que transformou a favela Vila Nova Esperança em um bairro sustentável, com carrinhos de mão oferecendo vegetais orgânicos a preço de convencional pelas ruelas da comunidade enfincada na divisa com o município de Taboão da Serra.
Tendência em todo o mundo, a agricultura urbana ganha características próprias em São Paulo. Muito imigrante que veio para a cidade grande atrás de oportunidades está recuperando o prazer atávico de mexer com a terra. Alimentos tradicionais da cultura indígena e caipira, como a taioba e o caruru, voltam a ser plantados e consumidos. E a metrópole que já foi industrial vai voltando a ter uma cara rural, que pode ser sinônimo de sustentabilidade e não de atraso.